Correndo Com Tesouras (Running With Scissors) Eis um filme que desafia um pouco a lógica da apreciação pessoal. Esclareço: é o primeiro filme de Ryan Murphy, o homem por detrás do seriado Nip/Tuck, que eu não gosto. O tom do filme que fala de uma família disfuncional lembra outros filmes que não gosto como Beleza Americana e Os Excêntricos Tenenbaums reforçado por ter Annette Benning e Gwyneth Paltrow em papéis muito parecidos com os papéis que interpretaram nos respectivos filmes. Joseph Fiennes participa do filme e eu não o suporto. E mesmo assim acabei gostando bastante do filme... E Fiennes não está ruim! Mais curioso ainda é ver que houve reações extremadas entre os que gostaram e os que odiaram (na crítica americana, por exemplo, você pode ler Jonathan Rosenbaum desprezando o filme e Andrew Sarris adorando) e ainda por cima, lendo as reações negativas identifico tudo o que não gosto de Nip/Tuck sendo ditas deste filme. Então por que diabos gostei? Não sei, e talvez esse seja o charme do filme. Muito se deve aos atores, isso fica claro, pois sem Brian Cox, Annette Benning, Gwyneth Paltrow, Evan Rachel Wood, Alec Baldwin, Jill Clayburgh e o novato Joseph Cross dando humanidade aos seus personagens, os deixando menos caricatos do que estão escritos, o filme poderia tomar um outro rumo. E o que é o filme? As memórias (reais) de Augusten Burroughs que teve uma criação bem diferente da normal. Sendo filho de pai omisso e ausente e mãe dominadora e histérica o fato dele ser gay não espanta (ou psicopata, não que uma coisa tenha a ver com a outra, mas ambos têm esse background em sua maioria). Ele passa a viver com a família do terapeuta da mãe que é bem excêntrica (como não seria sendo uma família de um terapeuta? hehe). Como são memórias não há um rumo definido, mas uma série de acontecimentos. A procura do protagonista por uma identidade e um senso mais verdadeiro de realidade é que nortearão seu caminho. Um dos relacionamentos mais bonitos do filme é o de Augusten com a esposa do doutor, proporcionando ao menos 3 boas cenas emocionais. Talvez esteja ali algo que tenha que cativado. Há também uma maturidade no olhar do protagonista que acaba sendo a pessoa mais "sã" ou racional dali, fazendo com que ao menos haja uma identificação, por menos que seja, no meio daquela bela loucura. Se bem que o pai de Augusten que Alec Baldwin faz também tem esse lado, só que é pouco explorado, mas deve ser dele esse lado que floresce no filho. Murphy como diretor não esquece do visual seja na composição dos planos ou no cenário. E se já tinha essa suspeita pelo seriado, ao vê-lo no making of e em algumas de suas características como diretor, fica óbvio que há uma identificação total entre ele e o protagonista, ambos gays. O autor aparece no finalzinho do filme e também no making of, dando mais informações de sua vida. Quem leu o livro diz que há vários lances que foram atenuados no filme, o que é uma pena quando sabemos quais são, pois poderia ter tido mais coragem na abordagem já que o filme, com essa trama, não é exatamente para todo mundo. E explicaria muito mais a formação do personagem e algumas de suas decisões, principalmente o relacionamento dele com Neil Bookman (um filho meio adotado pelo doutor), e o que ocorreu entre o doutor e a mãe de Augusten. Gostei das espetadas na psicoterapia e naquela noção de "nasci para ser artista" que a mãe tem (que é muito mais aquele sentimento americano de "quero ser importante/famoso). E aquela vida só levaria alguém a ser escritor mesmo, ao menos de um livro de memórias, se isso dá fôlego para mais literatura não sei. Enfim, um ótimo filme, ou não.P.S. - Evan Rachel Wood ótima em suas escolhas diferentes, se destacando das atrizes de sua geração, e isso também se revela em sua vida pessoal ao namorar o Marilyn Manson... aí não precisava tanto né Evan, hehe mas fazer o quê. posted by RENATO DOHO 12:36 AM . . . Comments: