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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

domingo, julho 22, 2007
The Sopranos (1999 - 2007)



Finalmente cheguei ao final da maior série de tv de todos os tempos. E, sinceramente, não queria chegar ao seu final. Não porque nunca mais iria acompanhar aqueles personagens, mas real medo do que iria acontecer nos últimos episódios, ainda mais que um dos personagens centrais morre de repente com 3 episódios para o final. Fui adiante e David Chase, fdp, deixou todo mundo com os nervos à flor da pele. Aí vem o final e, meu deus, o que é aquele final? Magnífico, totalmente angustiante, não conclusivo, desafiador e corajoso. Por isso que houve tanta controvérsia por causa desse final, eu sabia disso, mas mesmo assim você é pêgo de surpresa com o pensamento "isso não pode ter acabado assim!", até se controlar, repensar, refletir e chegar à conclusão que é um final excepcional. Até o elenco
falou sobre o final após a exibição. E teve gente explicando-o. E se vermos como o final se aplica tanto aos personagens quanto aos EUA de hoje fica ainda mais brilhante (o que esse video fala em partes, sem o paralelo com o país, tendo um vídeo resposta para explicar alguns detalhes).

Sobre toda a trajetória da série acho que já disse boa parte em posts antigos. Aqui acrescento que essa sexta temporada em poucos momentos pareceu ser a temporada final. Aliás, Chase fez com que muitas coisas no próprio último episódio não tivessem esse peso já que nunca foi característica da obra fazer com que haja um andamento narrativo que leve à algo, muitas coisas têm sua importância fundamental apenas naquele momento ou naquele episódio, depois outras coisas acontecerão. Exemplo melhor é o famoso russo fugitivo, que fim levou aquele personagem? Por nunca mais tocar em sua história ficou claro que o seriado se movia daquele jeito. Personagens aparecendo, sumindo e reaparecendo até causam uma confusão que uma revisão é necessária.

A própria estrutura de observar o cotidiano de uma família de um mafioso de uma cidade por muitas vezes ignorada ou rebaixada demonstra que o assunto não é sobre a máfia, mas aquele indivíduo chamado Tony Soprano. E tanto ele quanto os outros personagens não têm uma trajetória clara que poderia ser abordada, quais as grandes ambições deles? Eles querem viver em paz (no quanto isso for possível) e só. Nisso os filhos de Tony são perfeitos, eles, tanto quanto os pais, estão perdidos, sem uma direção certa. E é por isso que Tony vai se tratar com uma terapeuta, Carmela entrará em paixões não realizadas, Meadow e A.J. se debaterão sobre uma carreira, Christopher tentará entrar no mundo do cinema, etcs. E nisso eles, como sempre foram, são o retrato mais acurado do país em que vivem. Nos últimos episódios com os constantes paralelos entre o que ocorria, a guerra no Iraque, o terrorismo e a questão israelense/palestina mais ia se formando um quadro dos dias atuais num cenário totalmente distante, aparentemente, desses temas. Era a mistura do lado caipira de New Jersey com a situação do mundo, onde tudo está conectado. E nisso a série é importantíssima no tempo atual. Chase sacrificou, poderia-se dizer, uma certa atemporalidade da série para encarar de frente os problemas atuais e assim deixar uma marca no tempo. O mais fácil seria deixar tudo aquilo no mundo da fantasia televisiva, colocando referências atuais aqui e ali sem que interferissem muito, e assim pensar nas eternas reprises quando uma pessoa pode ver tanto agora quanto daqui há vários anos, sem muita perda ou importância. Não é o caminho que Chase quis, como não é o caminho que a série tomou desde seu início, sendo um reflexo acurado dos EUA ano após ano, e isso pode se perder um pouco para quem for ver tudo de uma vez num futuro próximo sem ter vivenciado cada ano junto com os personagens (a série passou da administração Clinton para Bush e também pelo 9/11 e suas conseqüências).

Sempre disse que Tony Soprano era (junto com Vic Mackey de The Shield) um símbolo ou melhor dizendo, uma figura emblemática do americano contemporâneo nas suas qualidades e defeitos. Quem sabe o Bill Henrickson de Big Love venha a se juntar ao time em breve (potencial para isso o personagem tem). Só que há muito da mãe na série, tanto quanto Tony, Carmela foi uma das grandes forças da história e como a mãe de Tony tem grande importância, além da irmã, da filha, da dra. Melfi e de suas amantes, a série também é um painel da mulher atual, muito mais diversificado e rico do que o universo masculino retratado. O quanto mais nos identificamos com os temores de Carmela durante muitas das temporadas? Era nela que a força parecia residir, ainda mais quando Tony fraquejava, psico e fisicamente.

E em tudo isso os atores merecem grande crédito por tudo alcançado. A galeria é tão grande que nem preciso escrever aqui.

Tudo sob o comando severo e brilhante de David Chase que transformou uma série de tv em obra prima da cultura popular americana.

Um texto legal para ser lido mais para o final (ao menos após a primeira parte da sexta temporada) é o artigo para a Vanity Fair escrito pelo Peter Biskind. E um ótimo vídeo que um fã fez que em 7 minutos resume toda a série (menos os últimos episódios)!

P.S. - Hillary e Bill Clinton refizeram o final da série para a campanha dela.

posted by RENATO DOHO 9:01 AM
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