Death Proof Não é de hoje que não sou entusiasmado com a obra de Quentin Tarantino. Se lá no início dos anos 90 tinha achado legal ter surgido um cineasta ou uma pessoa como ele (com Cães De Aluguel) a coisa parou no Jackie Brown que considero seu melhor filme (talvez por ser adaptação). Revisto Pulp Fiction perdeu a graça justamente porque vi nele cada vez mais uma nulidade ou um elogio ao nulo que não me interessa. Depois disso sempre gostei mais da pessoa do Tarantino do que seus filmes, ele como comentarista, dando entrevistas, falando de outros filmes ainda me cativa. E pra não dizer que não gostei de muita coisa do Kill Bill (que considero um filme só) acho a luta da Uma Thurman com os 88 muito boa. A auto promoção dele talvez seja algo que prejudique minha apreciação. Ele fala tanto que o que acabo imaginando sempre se frustra com o que acabo vendo. Isso com Kill Bill, com essa metade de Grindhouse e o nem realizado Inglorious Bastards. É tanto falatório que já tenho cenas desse filme de guerra na minha cabeça, assim como tinha para as cenas de carro em Death Proof. Ainda mais quando ele anunciava que teria a melhor perseguição de carros da história, que o nível era alto, que eram os melhores diálogos que ele já escreveu, etcs. Bom, cadê as tais cenas? O filme, mais longo do que quando foi lançado junto com Planet Terror, basicamente é a junção de duas metades, e a divisão fica clara, quase uma hora uma história e a outra hora final para a outra. Há um espelhamento das histórias, são mulheres um pouco semelhantes que vão ser aterrorizadas pelo Dublê Mike (Kurt Russell) e seu carro. Não exatamente, já que na primeira parte o ataque é de surpresa e no segundo não deixa de ser também. No meio disso o que temos? Um falatório banal interminável que aponta pra algo, mas vemos que não leva a nada (com direito há uma cena sentimental da Jungle Julia (bem interessante a filha do Sidney Poitier) e seu amor via celular que não dá em nada também). As primeiras, coitadas, nem têm tempo para muita coisa. O nada em si é importante nos planos em closes da jukebox e do maldito celular mandando mensagem (é realmente necessário vermos o processo de cada mensagem que uma delas fica mandando? ficamos vendo o "sending" processar... assim como o disco caindo e a agulha encostando para tocar...). Ah, e os pés... é um filme para os pés femininos, mais do que qualquer outra coisa. As referências pros próprios filmes do Tarantino enchem o saco pois parecem só aparecer porque é legal ver um carro com as cores da roupa de Uma em Kill Bill ou o toque do celular remeter ao filme novamente... As referências à vários outros filmes, bem, é algo que se espera dele, mesmo que bem explícitas como as fotos e trilha vindas diretamente de um filme do Dario Argento. E citar Vanishing Point só piora as coisas já que em nenhum momento consegue chegar aos pés do filme citado. Um resuminho do filme seria: mulheres falando (merda), música, desastre, outras mulheres falando (merda), mini-perseguição de carro, fim, música. É sério, não há muito além disso não. Ah, tem sim, desculpe, tem pés... Russell até um ponto está bem no papel do motorista assassino, mas de repente vira um chorão no final que é constrangedor (não pude deixar de pensar que é o alter ego do Quentin, pose de fodão que no primeiro aperto vira chorão). A batida da primeira metade é um destaque, mesmo que fique ambígua se achamos aquilo legal ou horrível - e como ela é reprisada algumas vezes parece ter sido feita apenas para impressionar. A perseguição final só fica boa nos minutos finais, destacando o trabalho da dublê que atua também e faz a Zoë. Essa cena nem dá pra analisar muito pois é meio ridícula, era possível diminuir a marcha e fazer com que a Zoë descesse do capô, o que não acontece só pra irritar e manter o suspense, e além disso a arma deveria ter surgido naquela hora pois se pensarmos não há lógica alguma no que a motorista estava querendo fazer (o que, aliás?), arriscando a vida da amiga sem motivo algum. Mesmo assim dava pra imaginar ali mesmo várias coisas mais interessantes: passando por alguns pastos achei que uma vaca seria atropelada e arremessada pra cima do carro de trás para depois a vaca se espatifar no chão (e com esse cuidado todo com animais seria algo deliciosamente politicamente incorreto); e o carro das garotas finalizar dando um pulo e caindo exatamente em cima do carro do maníaco e não apenas batendo de lado; ou uma super manobra (elas são dublês também no filme) capaz de parar o outro carro. Enfim, não mostrou nada demais (recentemente baixei The Road Warrior para ter o filme na janela certa e aquilo sim era foda). E a segunda metade deixa de querer parecer um filme de grindhouse (com as falhas de som, imagem, cenas cortadas, fotografia com cores setentistas, etcs) e vira um filme normal, com visual bem definido e tudo mais (com 2 ou 3 leves interferências). Caso haja graça ou considere isso legal alguns nomes aparecem nos agradecimentos: Sam Peckinpah, Brian De Palma, George Miller, Dario Argento, Richard Rush, e até Sammy Hagar (!).P.S. - o filme, pelo que escrevi, mereceria mesmo 2 estrelas, mas deixei o 2 1/2 porque realmente o que não é bom não chega a ser exatamente ruim. posted by RENATO DOHO 11:56 AM . . . Comments: