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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

domingo, setembro 02, 2007
INLAND EMPIRE



Diante de um filme desses o melhor é deixar pequenas impressões e rever, rever, rever... O digital deixou David Lynch mais livre, dá pra ver isso tanto na duração do filme quanto na movimentação da câmera com mais tomadas com câmera na mão (mais raras antigamente). Mas se não parece Lynch em certos aspectos técnicos é totalmente Lynch na concepção. O tema (ou temas) não difere dos outros filmes, inclusive há pequenos indícios de que se trata do mesmo assunto quando referências à outros filmes aparecem, mesmo que não intencionais (isso no final fica mais claro, mas só prestar atenção na peruca loira, no macaco, em certas atrizes que aparecem, em certas salas e outras coisas que remetem aos outros filmes) ou quando O Mágico De Oz e Alice No País Das Maravilhas retornam novamente. Acho que o filme se aproxima muito do que Lynch trabalhou em Twin Peaks (o filme), Lost Highway e Mulholland Drive, principalmente na questão da purificação da alma e/ou de seu tormento diante de pesado carma. E se pensarmos nisso chegamos até em História Real que é uma jornada de reconciliação. Pode-se dizer que INLAND é uma radicalização, deixando ainda menos claro sua narrativa, mas ao mesmo tempo é extremamente simples em cada cena, por isso não é inteligível. Apenas a ordem e como cada cena se conecta à outra que Lynch esconde e deixa para que o espectador complete. A repetição de cenários e falas fornece pistas sobre isso. Rabbits, projeto de Lynch para seu site, aparece em alguns momentos com planos já vistos e alguns inéditos. E há interação dele com o filme, explicando tanto o projeto quanto o filme. Também ocorre com Axxon N (que eu não vi, acho que nunca foi lançado e aparentemente são cenas que aparecem em INLAND) e Darkened Room (que até parece a gênese de INLAND), outros projetos do site. É de se indagar se isso Lynch desenvolveu ao fazer INLAND ou já era algo planejado há tempos (o que não acredito, principalmente pela forma como INLAND foi realizado). Laura Dern tem um desempenho magnífico, sua doação é extrema e não haveria sonho maior ter uma atriz assim à disposição de seu diretor (ela aparece em quase todas as cenas e foi co-produtora). A trama é simples, com um filme sendo realizado que seria um remake de um projeto incompleto que dizem ser amaldiçoado. Só que quanto mais vamos vendo, mais não sabemos quando estamos vendo o filme, o filme dentro do filme e o filme dentro do filme que o próprio filme se vê. Potencializado pelo fato de uma personagem ver tudo isso pela tv e ser vista pelo próprio filme. Há cenas magníficas no meio da crueza de imagem que o digital traz, e com simples cenários, as luzes certas e o trabalho brilhante de som e canções tudo vira magia. Creio que seja absolutamente necessária uma revisão para apreciação maior, ainda mais se após o filme o espectador perceber algo tão simples que faz com que a revisão fique cristalina. Só prestar atenção mais detalhada, na segunda vez, no que o personagem de Grace Zabriskie diz. Mas se não identificar isso mesmo assim o filme deslumbra de qualquer maneira. Mal posso esperar que meu dvd chegue para que veja mais um filme que seria os 90 minutos a mais com outras histórias que complementam o filme (não sei se chegam a ser cenas cortadas, acho mais uma necessidade de adentrar mais nesse mundo). Pois ao final a vontade é que o filme fosse ainda mais longo do que é.


posted by RENATO DOHO 8:27 AM
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