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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

sábado, março 01, 2008
Na Natureza Selvagem (Into The Wild)



A adaptação de Sean Penn para o livro de Jon Krakauer se mostrou segura e bem pessoal. Não que eu tenha lido o livro pra saber se a adaptação foi fiel ou não, mas sim a trajetória com suas passagens por lugares e pessoas diferentes num tempo não linear. Emile Hirsch tem aquele desempenho que marca a transição de um mero ator para alguém com mais bagagem, foi sua prova de fogo e ele se saiu bem. Por ter uma vontade antiga de contar essa história não tive como não notar que minha percepção e avaliação do filme contém filtros demais que ora ajudam ora atrapalham a apreciação do que Penn fez e optou. O que ele foca mais sua atenção, como ele monta o passado, o uso da narração, qualquer escolha passa para mim de uma maneira completamente diferente de quem simplesmente sentou e viu o filme. Não enfocaria isso, não usaria aquilo, mostraria de outro jeito, cortaria esse diálogo, a interpretação podia ser assim, etcs. Se mesmo assim o filme me agradou é porque Penn realmente se entregou na realização, pois vi ali uma visão sincera (podendo ser aqui e ali bem diferente da minha).

Liberdade Condicional (Straight Time)



Grande filme de presidiário em liberdade condicional tentando se readaptar à sociedade dirigido por Ulu Grosbard e estrelado por Dustin Hoffman. Hoffman impressiona pela versatilidade, em poucos minutos acreditamos inteiramente em sua persona e esquecemos que anteriormente ele era um grande jornalista (Todos Os Homens Do Presidente), um maratonista (Maratona Da Morte) ou um professor bundão (Sob O Domínio Do Medo). Michael Mann não aparece nos créditos mas ele foi chamado pelo produtor e Hoffman para adaptar o livro de Edward Bunker para as telas, estudou a fundo o sistema penitenciário durante três meses, mas acabou sendo dispensado (mas notamos aqui e ali sua influência no roteiro). É curioso ver hoje em dia uma jovem Theresa Russell (seu segundo filme), no auge de sua beleza, Gary Busey novinho (avariado como sempre), Kathy Bates (a que mais mudou) e Harry Dean Stanton (que já nasceu velho hehe). A trama aparenta seguir um caminho, mas de repente muda para outro, ficando empolgante (não que a outra parte fosse desinteressante) e eletrizante. O final é memorável e influenciou muito filme por aí.

Um Beijo Roubado (My Blueberry Nights)



O filme americano de Wong Kar Wai se mostra mais leve que o habitual, mas tão encantador quanto os anteriores. A Norah Jones estreando como atriz se revela muito boa, em nenhum momento ficou aquela impressão de que é uma cantora atuando, e o seu jeito e sua cara dão uma aura de bondade e inocência perfeita pro personagem. O filme parece um painel de estilo "americana" onde cada personagem novo tem seu tempo de exposição e desenvolvimento, formando uma idéia (mítica?) do país. Nisso os atores convidados ajudam: Rachel Weisz, Natalie Portman, David Strathairn e Jude Law. Cria-se interesse em cada um dos personagens e suas histórias vistas de passagem, como um road movie sem ser exatamente um. Ry Cooder na trilha reforça o clima 'on the road' e há uma reprise do tema de Amor À Flor Da Pele só que desta vez com harmônica, que ficou muito legal. Além do uso de cores, enquadramentos precisos, mescla de trilha com os sentimentos internos da história e o romantismo, que são tão caros ao WKW o que se mostra ainda melhor são os pequenos momentos que ele consegue retransformar ou tornar antológicos pela forma que filma. Neste filme um beijo é muito mais que um beijo, é um beijo como nenhum outro.

Rambo IV (Rambo)



Sem delongas, que ótimo filme! O filme é rápido (curto, poderia ser maior) e violento, mas uma violência nada estilizada, é até crua, onde explosões mostram mais o impacto delas em corpos do que um efeito bonito de se ver (não daquele tipo, "uau que explosão bonita!", "que tiroteio bacana!"), isso só tem uma exceção que é a da explosão da bomba não detonada, mas é a exceção que confirma a regra. O filme tanto fecha bem a saga quanto se desenvolve de forma que se esperaria mais, digo, para uma volta ao personagem a trama é até simples demais, quase banal, como se isso acontecesse frequentemente nesses 20 anos desde Rambo III, no terceiro filme ele ao menos tinha um motivo maior para voltar, salvar seu amigo e figura paterna. Retornar à ação por um bando de missionários (ou mais precisamente, uma missionária), parece frágil demais. Por outro lado as possibilidades de roteiro que foram criadas eram ainda piores, em algumas Rambo virava John McClane... Ele ter um amor nativo seria interessante, por exemplo. Só que Sylvester Stallone capricha tanto no que mostra que o roteiro em si pouco importa. Julie Benz é o nome mais conhecido do elenco, de Dexter, de onde Sly a conheceu, por ser fã da série, e a chamou para o filme. Quando as botas dele aparecem naquela estrada não teve como não se emocionar, voltamos direto pro primeiro filme e finalmente o personagem volta para casa, momento propício dentro das conjunturas atuais. Não fosse por esse final eu até gostaria de ver mais um Rambo, só que com esse círculo que se fecha não gostaria de vê-lo quebrado apenas para uma outra aventura, como criar um problema para ele em casa.

Don Juan Era Aprendiz (Under The Yum Yum Tree)

Jack Lemmon ao mesmo tempo irritante e ótimo. Aliás o filme tem seu lado esquizofrênico, o grande astro é o personagem que mais torcemos contra durante todo o filme. Ele é um bon vivant, dono de um condomínio onde só aluga os apartamentos para jovens solteiras e bonitas e que acabam sendo seduzidas por ele. Até que ele aluga para uma linda jovem, sobrinha de uma antiga conquista, que, sem ele saber, vai morar com o noivo, numa relação platônica, isto é, sem sexo, para ver se eles se dão bem morando juntos, para aí então ela pensar em casamento. Claro que ele vai querer sabotar o relacionamento do jovem casal e ter conquistar a garota. Em vários momentos o papel de Lemmon lembra os de Jerry Lewis, só que com um toque a mais de malandragem, mas o clima é o mesmo, nos cenários, nos perfis das mulheres e nas piadas (claro que sem o brilhantismo de Lewis, ainda mais nas gags visuais). Lemmon está tão bem que dá vontade de entrar no filme para dar um soco na cara dele, ou então fazer com que o ingênuo casal se toque do que realmente ocorre. Um dos destaques é a bela Carol Lynley que anos depois foi a protagonista de Bunny Lake Desapareceu, de Otto Preminger.

Atravessando A Ponte – O Som De istambul (Crossing The Bridge – The Sound Of Istanbul)

O baixista da banda alemã Einstürzende Neubauten vai para Istambul registrar os sons locais após ter conhecido um pouco da musicalidade da região quando realizava a trilha do filme Contra A Parede, do mesmo diretor desse documentário, Fatih Akin. Nesse tipo de registro dá pra notar se o filme é bom mesmo se a troca do gênero musical não afetar a apreciação, isto é, o filme seria bom mesmo se o que estivesse no lugar fosse um pop bumblegum, por exemplo? A resposta é que não, muito do que se mostra bom no filme é a possibilidade de ver e ouvir as canções do local. Por isso quem não aprecia, mesmo que se mostre diversos gêneros, não irá curtir muito o filme.

Saneamento Básico – O Filme

Por ser um filme do Jorge Furtado falar que achei o filme bom é algo até demais já que sempre tive ressalvas com seus outros filmes. Não que não tenha com esse também, mas se tenho são mínimas já que o projeto inteiro parece ser bem mais ligeiro e rasteiro do que de costume. A obsessão com o dinheiro continua, quase tudo em sua obra lida com isso, e um certo didatismo narrativo também. Desta vez mais explicitamente ao tentar dar um aulinha básica de roteiro durante o filme. Acho que as presenças de Fernanda Torres e Wagner Moura ajudam a tornar o filme leve. Também parece ter menos uma interferência mais pesada do Furtado no filme, isto é, um tipo de senhor-do-filme que é mais evidente em outros de seus filmes, geralmente através de truques de roteiro e montagem. É como se ele deixasse finalmente o filme correr no seu próprio ritmo, não querendo se mostrar toda hora (lembro dos roteiros de Charlie Kaufman e a direção de Spike Jonze ao falar disso).

1408 (Idem)

O filmes baseados em histórias do Stephen King geralmente têm um padrão de ter uma boa premissa, um desenvolvimento aquém do esperado e um encerramento frustrante (ou banal). Há raras exceções. Aqui não se foge do padrão, até que parece ser uma história curiosa, mas conforme vai evoluindo tudo começa a ficar sem graça, como se a imaginação de King nunca suprisse o espaço do que ele sugere no início, é sempre algo menor do que nós próprio poderíamos imaginar. Quem sabe seja por isso que nunca tive vontade de ler um livro sequer dele, mas ser fã do Clive Barker (na literatura, não em filmes) que joga a imaginação lá pro alto (não sei se nos livros recentes pois faz um tempinho que não o leio). John Cusack passa boa parte do filme sozinho e não fosse por ele o filme seria bem pior. Há um final alternativo na versão do diretor que acho pior.


posted by RENATO DOHO 10:22 PM
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