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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

sábado, abril 26, 2008
No Vale Das Sombras (In The Valley Of Elah)

Poderia falar que foi uma bela surpresa, mas isso seria mais de acordo vindo de alguém que tivesse feito parte da tropa que arrasou Crash, o que não é meu caso, então não chega a ser uma real surpresa ver o trabalho que Paul Haggis conseguiu aqui. Se o anterior, não tendo achado ótimo, acho simplesmente um bom filme com algumas falhas, esse é conduzido de uma forma que vai conquistando de pouco em pouco e o que vai sendo acrescentado só melhora, chegando num final que por um momento achei que iria estragar tudo, mas não, aquele plano final faz parte do que eu vinha construindo junto com o filme. E é muito bom. Uma de suas qualidades é que pode ser visto como um puro filme de investigação, um pai com passado militar querendo saber o que ocorreu com seu filho, assassinado após voltar do Iraque, perto da base onde estava. Mas há algo a mais no meio disso e achei muita acurada a forma com que Haggis vai falando da guerra e do exército e, principalmente, de como a violência vai se infiltrando numa vida comum através da experiência militar. E isso sem recorrer à imagens excessivas, aliás quase nada (ao mesmo tempo isso se dá pela imagem, via vídeo ou foto). Como uma criação familiar, de certa forma, correta e amorosa, não dá conta de criar uma barreira contra a violência gratuita, uma violência que se instala aos poucos e se torna natural. Haggis associa isso diretamente à vida militar, com uma visão nada simpática tanto do exército quanto de suas atividades em tempos de guerra. Brigas entre soldados? Uma forma de extravaso. Drogas entre soldados? Extravaso. Reagir com excesso? Um comportamento adquirido. Um "famintos" jogado numa das falas é perfeito de tão real e sem sentido. Não só os soldados são exemplos disso, mas o pai também (como o jeito que lida com o mexicano ou com a policial). Creio que o protagonista se dá conta e sinaliza isso com sua atitude no final, pois dependia daquele gesto mostrar se ele tinha aprendido algo ou não com tudo aquilo, pois poderia ser que ele ainda mantivesse uma idéia romantizada de todo seu projeto de vida, que o que ocorreu foi uma exceção.

Nem mesmo a explicação para o título do filme, em forma de história contada ao pé da cama, escapa de ter tanto um aspecto positivo (na relação entre aquele senhor e aquela criança) quanto um negativo (o que aquele conto realmente quer dizer e o que ele motiva na criança).

Você vai refletindo essas coisas e pensamentos de "ah só em filme mesmo para tal coisa ocorrer, tão banal assim" surgem, quando lembramos que o filme é baseado em fatos reais; não que as coisas aconteceram daquela forma, mas o caso no todo e isso dá mais força para a história, não é um exemplo criado para dar conta de uma situação ou explicar uma posição, como um conto moral, mas sim fatos e o que podemos perceber através desses fatos. Talvez somente um caso real desse jeito para abrigar tamanha aparente falta de sentido.

Além de tudo isso temos Tommy Lee Jones em uma de suas melhores interpretações, auxiliado por um elenco que demonstra que Haggis ou atrai bons atores ou escolhe bem. Charlize Theron está ótima, sóbria, mostrando que realmente tem talento sem precisar se enfeiar ou então seduzir pela beleza, ela está comum e convence como policial, como mãe e como mulher. O lance do nariz é muito bom, como uma marca, uma sinalização do estado das coisas. Ainda temos Jason Patric, Susan Sarandon, Josh Brolin (numa sucessão impressionante de boas escolhas), Frances Fisher (inusitadamente fazendo topless naturalmente), James Franco e Jonathan Tucker (pequena mas boa participação, trabalhou bem com Haggis no seriado The Black Donnellys).

Enfim, um ótimo filme que merece revisão para os outros aspectos, como a forma em que o pai e o filho acabam, em última instância, se comunicando.


posted by RENATO DOHO 12:34 AM
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