Pesquisa Literária 2008 (3)

FABIANO MORAIS:

A Negação Da Morte - Ernest Becker



Woody Allen dá este livro de presente para a personagem de Diane Keaton em Annie Hall. Estranhamente, não foi esse o caminho que me levou a ler o livro de Becker, pois descobri esta "trivia" depois. Uma investigação profunda sobre a relação do ser humano com a morte e com o fardo de ser o único ser vivo consciente do próprio fim. Becker elege a psicanálise como melhor instrumento para compreender o temor da morte, revisando Freud, Otto Rank e dando especial atenção, na filosofia, à Kieerkegard. Escrito na década de 1970, talvez soe um pouco datado, mas nem por isso deixa de ser uma leitura fascinante. Tradução de Otávio Alves Filho.

Saudades De Nova York - Pedro Paixão



Pequeno livro de um dos expoentes da nova literatura portuguesa. Escrito de forma fragmentada - o que já é sugerido no aviso que precede a dedicatória ("O diário, e não é um diário, gostaria de ser muito o estilhaço de um espelho que se quebrou sem querer, contados os dias") - ele acompanha as angústias de um homem que viaja para Nova York buscando deslindar sua vida amorosa caótica. Vai em busca de não se sabe bem o quê, sob o pretexto de fazer algo que tampouco é explicitado, mas, como tudo na obra, sugerido. Um livro curioso, caleidoscópico, que sobrevive graças à profusão de observações mordazes e certeiras sobre o homem contemporâneo.

Crônica Da Casa Assassinada - Lúcio Cardoso



Sempre quis ler Lúcio Cardoso pelo que ouvia falar serem as suas maiores qualidades: a densidade da narrativa psicológica, o mergulho no eu profundo e muitas vezes sórdido dos seus personagens, etc. Depois de vencidas as árduas 534 páginas, não me arrependi. Belo retrato de uma família antiga (em todos os sentidos) de Minas Gerais, na qual rancores e ódios que perpassam gerações minam os próprios alicerces da Casa do título, que me faz recordar a Casa De Usher de Edgar Allan Poe. Poucas vezes vi personagens tão ricos e trágicos quanto os Menezes. Um livro desafiador, mas que traz uma sensação de enriquecimento íntimo ao se virar a última página.

Homem Comum - Philip Roth



Penúltimo livro do que sem dúvida é meu autor contemporâneo favorito, este livro é, se comparado aos da saga de Zuckerman, simples e, de certa forma, despretensioso. Direto, ele acompanha a derrocada física do homem comum do título e sua angústia perante a proximidade do fim. Começando no enterro do protagonista, Roth conta através de flashbacks os momentos-chave da vida de um homem que tentou viver ao máximo, fugindo da sombra da finitude que o assombrara desde jovem. Materialista convicto, o personagem, como muitos do autor, se agarra à vida através do sexo, que lhe parece uma espécie de câncora, de vitória contra a morte. Um bom livro, embora menor diante do vulto gigantesco da obra de Philip Roth. Tradução de Paulo Henriques Britto.

O Campo De Batalha Sou Eu - Fausto Wolff



Ontem (06/09) tive a triste notícia da morte de Fausto Wolff. Importantíssimo para minha formação intelectual, Fausto era um dos poucos jornalistas/escritores que mereciam plenamente serem chamados de autênticos. Seu primeiro livro, O Acrobata Pede Desculpas E Cai, mudou minha maneira de ver o mundo e a mim mesmo. Este é seu segundo livro, escrito em 1968. O Campo... tinha ficado quase quatro décadas fora de catálogo e agora volta em nova edição pela editora Leitura, de Belo Horizonte. Conta a história de Herbert, um alemão que se imagina judeu e enlouquece sob o peso da culpa e do sofrimento dos seus "irmãos" durante a Segunda Guerra. Narrado em primeira pessoa, é um livro pungente, honesto e corajoso, principalmente se pensarmos que é o segundo livro de um jovem autor e na época em que foi escrito. Pena que a Leitura não foi mais cuidadosa na edição, que é repleta de erros de revisão/preparação de originais, deficiência que já havia notado em Olympia, último livro de Fausto, também lançado pela editora mineira.

Olympia - Fausto Wolff



Último suspiro do Velho Lobo. Livro estranho, em que Fausto tenta estabelecer uma nova cosmogonia que conta com deuses fanfarrões e "demasiado humanos". O livro se divide em duas narrativas: uma se dá no planeta Olympia, o lar destes deuses, que brincam de criar a Terra (em verdade, um cagalhão que um deus mal-intencionado largou no quintal de um deles); a outra, no mundo de hoje em dia, em que Joel, um jornalista alter-ego do Wolff, e sua turma (Aldir Blanc, Ferdy Carneiro, etc, com nomes trocados), tocam a vida durante algumas décadas da história do Brasil. Um livro cheio de defeitos, mas cheio também de ternura e tiradas engraçadíssimas. Porém, o livrão do Fausto continua sendo À Mão Esquerda.

Cartas A Um Jovem Poeta - Rainer Maria Rilke



Demorei a ler este clássico do Rilke, mas não me arrependi. Em bela edição "vintage", de 1961, da Editora Globo (a de Porto Alegre, não a dr. Roberto), com prefácio de Cecília Meireles, pérolas como "falando novamente em solidão, torna-se cada vez mais evidente que ela não é, na realidade, uma coisa que nos seja possível tomar ou deixar. Somos sós", desfiam-se página a página. Essencial. Tradução de Paulo Rónai.

[Bônus] Em leitura:

Um Parque De Diversões Da Cabeça - Lawrence Ferlinghetti



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AILTON MONTEIRO:
blog: http://cinediario.blogspot.com/

Sandman, Vidas Breves - Neil Gaiman & Jill Thompson



Depois de um longo tempo apenas acompanhando os quadrinhos da Marvel e acumulando os álbuns de luxo de Sandman que vou comprando à medida que vão saindo, tive o prazer de ler durante as férias esse belo arco sobre a busca de Sonho e Delírio por Destruição, seu irmão.

Lost Girls - Alan Moore & Melinda Gebbie



Mais quadrinhos. Essa obra de arte pornográfica lançada no Brasil em 3 volumes de luxo é de surpreender as mentes e atiçar os desejos de qualquer um. E Moore se confirma como o grande homem dos quadrinhos vivo, enquanto sua esposa se mostra a desenhista perfeita para retratar o início do século XX e a perda da inocência de Alice, Wendy e Dorothy.

De Cada Amor Tu Herdarás Só O Cinismo - Arthur Dapieve



Decepção esse romance de Dapieve. Acho que quando a gente começa a achar o protagonista um babaca, a coisa já está perdida.

A Era De Aquarius - Ary Médici Arduíno & Rosângela Aparecida Guimarães Alves



Depois de um longo tempo sem ler obras esotéricas, peguei esse exemplar distribuído pelos rosa-cruzes através de um amigo e achei interessante, embora pouco coeso. É na verdade uma coleção de ensaios, sendo dois dignos de destaque: o que trata das eras astrológicas e o que fala sobre a natureza misteriosa da obra de Leonardo Da Vinci.

Anthony Steffen, A Saga Do Brasileiro Que Se Tornou Astro Do Bangue-Bangue À Italiana - Daniel Camargo & Fábio Vellozo & Rodrigo Pereira



Livro fininho e agradabilíssimo, que não apenas conta a vida e a obra de Steffen, mas oferece um panorama do que era a Itália e o mundo do cinema nos anos 60. Sem falar que dá vontade de ver um monte de western spaghetti enquanto se lê o livro.

Roberto Carlos Em Detalhes - Paulo César De Araújo



A hoje censurada biografia do Rei é um livro essencial. Quem não comprou, perdeu. Um dos livros mais gostosos de ler dos últimos anos e o que me fez criar ainda mais gosto por biografias. Quem gosta de Roberto passará a admirá-lo ainda mais. Trabalho feito por um fã e injustamente tirado das prateleiras.

Ensaio Sobre A Cegueira - José Saramago



Em tempos de fama por conta da adaptação cinematográfica, o livro de Saramago é um dos mais fluidos de sua carreira e um dos mais instigantes também. Não tem um final tão belo e poético quanto o de Todos Os Nomes, mas o livro inteiro é desses de empolgar mesmo. E às vezes chocar.

(continua)

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posted by RENATO DOHO 7:30 AM

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