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"Sometimes meaningless gestures are all we have"

quinta-feira, fevereiro 21, 2008
Desejo E Reparação (Atonement)

Que filme redundante! Tanta redundância daria pra reduzí-lo em mais de 40 minutos de sua duração. Começando pelo começo (minha pequena homenagem ao filme hehe) lembro dos vários elogios ao livro, mas sempre que lia a idéia central achava algo de tão frágil que só um malabarismo do autor pra desenvolver um romance em cima disso. Creio que tenha conseguido, até tenho o livro, mas depois do filme diminuiu minha vontade de lê-lo. Só de pensar que terei que passar pelas partes da guerra já desanima. O começo até que é interessante, preparando o que vai acontecer e apresentando os personagens, mas o espaço de tempo é muito curto, nem um dia inteiro talvez. Fora todos os acasos que constroem o "jogo" e, relembrando, tudo num único dia. Pra mim o filme se perde depois disso. O que realmente tinha alguma força era o triângulo que se formara e como iriam lidar com isso juntos, a dinâmica entre eles. Ao concentrar no jovem e depois na mocinha já crescida tudo parece repisar o já entendido e dito. Em uma fala ou apenas uma cena poderíamos imaginar o que foi a vivência dele na guerra (como imaginamos os 3 anos anteriores apenas mencionados), e em uma fala (que a garota não foi pra Cambridge e sim foi fazer enfermagem, talvez por culpa) já resumia bem o personagem, mas o filme faz questão de vermos ela como enfermeira e não vi ali nada significativo que acrescentasse. O filme volta a ter força no reencontro dos 3, que veremos depois é algo imaginado. Depois temos o constrangedor momento da confissão final, que por um lado resume bem o que ocorreu com o casal de outro proporciona o final Titanic... Não sei como é no livro, mas esse recurso de auto-citação (ela escreveu um livro com o mesmo nome da obra e que conta o que o livro conta) já é meio pretencioso demais (como um filme de um filme achado e essas besteiras todas). No final eu acabei achando que aqueles personagens estavam emos demais, em sintonia com nossa época. Os 3 principais não entendem que a vida não é justa e não passam por cima disso, o jovem fica se remoendo no campo de batalha, a jovem fica esperando pelo amado e a garota fica tentando confessar tudo pela escrita, não vejo em nenhum deles algum grande dilema ou um enorme sofrimento, pois se dessem a volta por cima estariam muito melhores e bem resolvidos e não presos num banal acontecimento do passado. Quem eu acho que seria bem mais interessante é o outro casal, que começou num ato pedófilo, provocou uma prisão e acabou num casamento. O que pensam sobre tudo isso, o que os atormenta...

Ah sim, só uma coisa engraçada que notei no filme e me fez dar risada: o cabelo da Briony nunca muda e o diretor até procura mostrar três tomadas bem parecidas dela em idades diferentes com o mesmo cabelo. Quando vi isso e vejo o quanto as pessoas mudam com o tempo, ainda mais mulheres com o cabelo, achei cômico o fato. Sei que deve ter alguém por aí que tenha uma teoria que o cabelo represente a imutabilidade de Briony ao longo do tempo, mas pra mim só soou desastradamente cômico o recurso, mais uma redundância desnecessária.

Romance & Cigarros (Romance & Cigarettes)

Musical escrito e dirigido por John Turturro é um projeto antigo dele, já escrevia esboços disso durante as filmagens de Barton Fink (os irmãos Coen produziram o filme). Ele conseguiu reunir um bom elenco: três atores de Os Sopranos (James Gandolfini, Steve Buscemi e Aida Turturro), Mary Louise Parker, Kate Winslet, Susan Sarandon, Mandy Moore e Christopher Walken. A trama em si não tem novidade alguma e no final isso pesa negativamente. O filme é irregular e tanto tem boas cenas musicais, com coreografia e uma loucura controlada quanto se perde em outras, nunca conseguindo desenvolver melhor as relações entre eles. Exemplo maior é o pai com as filhas que ainda por cima não convencem (Aida e Mary como filhas do James e da Susan?!). Kate está engraçada e exagerada como a ruiva que deixa James maluco e desestrutura o lar original. Indo pro final há aquele típico arrependimento masculino junto com uma notícia nada boa. Há várias cenas cortadas nos extras do dvd assim como um making of e comentários de John e do filho com legendas. Poderia ser bem melhor do que o resultado final.

Baixio Das Bestas

De polêmico mesmo não achei coisa alguma, aliás achei que o filme se acovarda em várias situações e tenta deixar bonito o que não era pra ser (Dira Paes sendo abusada através de sombras? outra por uma bonita tomada de cima?). Pode-se dizer que é mais bem filmado que o Amarelo Manga, mas isso talvez prejudique ainda mais o filme (até as queimadas ficam bonitas, com aquele som cristalino dos estalos), afinal os personagens e o diretor insistem em falar que aquilo tudo é podre, sujo, asqueroso. Há uma óbvia falha de encenação das cenas, fazendo tudo estruturado demais para as tomadas, onde entra o ator, onde ele pára, onde a câmera vira, onde a luz foca, tudo parece montado, falso (fazendo com que menos ainda haja a impressão de estarmos vendo algo que choque ou polemize, é como ver uma briga no Jerry Springer ou no Ratinho). E eu não vou falar que Matheus enrabando uma puta soa falso pois isso é óbvio. Perde-se a naturalidade que vemos apenas nas tomadas dos trabalhadores na caçamba dos caminhões e na festa popular, e até parecem cenas de outro filme, mais documental. A sala do jovem burguês, o cinema abandonado, o bordel, a casa do velho e da garota, esses parecem realmente cenários. A narrativa que quase não existe consiste em cenas (sketches se for pra criticar mesmo) de um suposto cotidiano de uma suposta realidade que não chega a lugar algum (há alguma novidade nos "causos" relatados? nos noticiários e na vida real têm coisa muito pior).


posted by RENATO DOHO 10:23 PM
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