quarta-feira, abril 27, 2005
Sideways – Entre Umas E Outras (Sideways)
Até que me surpreendeu o filme mais humanista do Alexander Payne. Muito se deve ao acréscimo da personagem de Virginia Madsen, senão teríamos os mesmos tipos caricaturais e auto-depreciativos (há uma leve encorregada na mãe do protagonista e na garçonete gorda). Ela que tem e mostra um lado mais humano, mais esperançoso nas relações com as pessoas e na própria condução de sua vida. Paul Giamatti está bem mesmo fazendo de novo o pobre coitado "tenham pena de mim". A mistura de humor e emoção quase fica bom (o humor exagera um pouco para pior) e uma das melhores cenas é de Virginia e Paul na varanda falando de vinhos, do por quê ele gosta de Pinot Noir e ela de como adquiriu gosto pelo vinho.
Os Gangsters (Gangster No. 1)
Filme muito interessante do diretor Paul McGuigan cujo trabalho fiquei curioso a partir da apreciação de Paixão À Flor Da Pele. Acompanhamos o ainda jovem Paul Bettany (só atualmente vem sendo mais conhecido) subindo como um mafioso. O elenco é muito bom (David Thewlis, Saffron Burrows e mais tarde Malcolm McDowell). A história é narrada pelo protagonista quando mais velho e a criação da personalidade dele é fascinante pois é doentia, ele começa a ficar famoso por esquartejar suas vítimas (pena que vi na Globo e há cortes - quero rever de outra forma na íntegra e sem a dublagem). Não há identificação entre público e protagonista, o que é muito bom pela proposta. McGuigan vai demonstrando um domínio visual muito bom e também pelo bom uso da trilha sonora. É um filme para se descobrir e um cineasta para se prestar mais atenção.
A Capital Do Crime (Chicago Confidential)
Uma melhores qualidades deste policial B é a capacidade incrível de desenvolver uma estória em pouco tempo sem parecer que o andamento é rápido demais ou alguma cena foi cortada. E muitos filmes não conseguem em durações maiores mostrar tanto quanto. Isso era uma característica dos filmes B e fica evidente neste belo exemplar, pois outros pecavam por deixar de lado ou o desenvolvimento emocional ou a narrativa. Há um certo tom nacionalista no final com o narrador reafirmando a confiança nas instituições americanas, mas isso não prejudica o filme.
Os Brutos Também Choram (Cry Tough)
Não dá para não achar este filme uma espécie de pai de O Pagamento Final pois retrata um imigrante porto riquenho saindo da prisão e querendo mudar de vida, mas não conseguindo por força do destino. Também há um interesse amoroso numa mulher de profissão indecorosa, a questão da amizade, a perda (ou inexistência) de uma identidade pessoal fazendo com que o protagonista seja um fantasma e uma certa sombra de tragédia no ar. Também a questão portoriquenha ou de imigrantes serve mais de pano de fundo para uma trama de criminosos. Fora isso o protagonista fica com uma cicatriz no rosto (Scarface?). O filme explora a relação paternal que permeia toda a história de forma bem forte. John Saxon (bem novinho) até que não está mal. Atenção para uma cena pra lá de sexy que fiquei intrigado se teve problemas com a censura da época ou não: Linda Cristal num baby doll transparente que deixa seus belos seios à mostra durante longo tempo (e no começo até achamos que ela está sem calcinha também).
Outros
O Morro Dos Ventos Uivantes (Wuthering Heights) ** - versão MTV, ao menos temos Erika Christensen.
Promessas De Um Novo Mundo (Promises) *** - gostei das crianças apresentadas, o empenho do BZ e do quadro geral mostrado.
Lisbela E O Prisioneiro **1/2 - até que não achei ruim, Selton Mello salva.
Meu Novo Amor (How To Deal) **1/2 - mais um da Mandy Moore, meio estranho no andamento (muitas cenas parecem ensaios).
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terça-feira, abril 26, 2005
Álbuns Recentes
Ainda recém pegos e recém apreciados.
Bruce Springsteen volta com seus álbuns introspectivos seguindo a trilha de Nebraska e The Ghost Of Tom Joad. Só que há algo a mais, algo de diferente. A canção título já arrebata logo no início, emocionante! Continua o grande Boss de sempre!
É um dos primeiros cds que está sendo lançado em dual side, isto é, de um lado o cd em aúdio e de outro a parte em dvd. Um recurso extra para o combate à pirataria.
Primeiro álbum que pego da Aimee Mann (fora a trilha de Magnólia). Há toda uma história que segue pelas letras das canções. Ótimo.
The Shins já aparecia em algumas trilhas (como a de Garden State) e pegando este primeiro álbum de carreira deu pra perceber melhor como incorporaram bem a musicalidade dos anos 60. Às vezes até lembra Beach Boys.
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segunda-feira, abril 25, 2005
Inferno No Deserto (Play Dirty)
Um excelente filme de guerra dirigido por André De Toth com uma dupla em ótima sintonia: Michael Caine e Nigel Davenport. Feito um ano após Os Doze Condenados tem uma história similar, uma missão onde os integrantes são quase que mercenários agrupados pelo capitão Leech e tendo que ter a companhia e liderança de um oficial inglês (Caine). Durante o filme temos uma ação contínua pontuada por um humor que desarma certas cenas mais fortes (como a tentativa de estupro da enfermeira alemã) e só mais para o final vemos o poder do filme terminando brilhantemente e revelando toda sua faceta anti-bélica.
A Paixão De Uma Vida (The Long Gray Line)
Mais um grande Ford que creio ser particularmente pessoal por se tratar da história de um imigrante irlandês que alcançará alto posto em West Point sendo muito querido por todos que passaram pelo treinamento na melhor academia militar do país. Como pouco lembro do trabalho de Tyrone Power fiquei surpreso pela bela caracterização (que pega boa parte da vida de uma pessoa e nunca soa falsa). Maureen O'Hara está ótima como sempre e me fez lembrar de como essa ruiva foi uma das minhas primeiras paixões cinematográficas (melhor dizendo, a primeira ruiva do cinema que me apaixonei) quando a via em filmes do John Ford (Rio Grande, Depois Do Vendaval). Podemos perceber como Ford era um mestre em direção de atores (geralmente uma qualidade negligenciada na apreciação geral) em cenas que começam simples e terminam atingindo uma complexidade e um sentimento coletivo difíceis de se alcançar (como o natal solitário do protagonista). Há muito humor e a narrativa não se apressa e apresenta momentos tocantes da vida de Marty Maher com um final bem emocional.
Breaking News – Uma Cidade Em Alerta (Dai Si Gein)
Policial brilhante dirigido por Johnny To que já começa num plano seqüência (aparentemente sem cortes) magnifíco. E ação não pára a partir daí. Fora isso a mídia é abordada de forma inteligente e engraçada (já em Duro De Matar o tema era tratado, mas o filme atual acrescenta a manipulação que tanto a polícia quanto os bandidos utilizam no trato com a imprensa). O mais recente filme de Johnny To vai estar em Cannes este ano.
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segunda-feira, abril 18, 2005
O Drama Da Criança Bem Dotada - Alice Miller
Um livro bem pequeno (109 páginas) e muito bom.
O título confunde, não é para pais que tenham gênios em casa hehehe mas para qualquer um interessado na questão dos pais (de)formando a vida de seus filhos e de como nossas infâncias são fundamentais na construção de nossa pessoa.
Ela escreve não para psicólogos, pois ela não vai à fundo nos casos, usando termos da área, mas sim dando uma geral para leigos.
Várias coisas extremamente interessantes e curiosas. Tipo a importância do contato inicial com a mãe logo que nasce (que inicia o primeiro trauma da criança), a questão do espelho entre mãe e filho (e quando não há esse espelho que começam os problemas), a questão do amor incondicional e não o amor manipulativo, da projeção nos filhos (amar por ele obedecer, por ser educado, por fazer algo que agrade os pais). Sutis manipulações e sutis traumas que os pais causam sem ter noção das conseqüências (às vezes sob o disfarce do "educar", do "enfrentar o mundo real", mas na verdade para esconder os próprios medos).
Também fala da manipulação dos terapeutas com seus pacientes (mesmo que inconsciente). E só se os terapeutas se conscientizarem de seus traumas infantis (ou de suas questões, pois trauma ainda é visto como algo forte) e os aceitarem podem dar um tratamento melhor aos seus pacientes, caso contrário só confortam ou não confrontam essas questões infantis nos pacientes (pois não querem ver os seus próprios), impossibilitando qualquer benefício no tratamento.
Pais reprimidos que só têm a chance de exploração sexual com a filha recém nascida, no banho, não de forma perversa, mas de forma, até certo ponto, inocente, acarretando traumas na criança. Mães violentadas quando crianças que "brincam" com seus filhos, nas suas próprias buscas pela sexualidade que foi reprimida tão cedo (ou exploradas muito cedo).
Depressão e grandiosidade, idealização dos pais (ou de alguém mais velho) como forma de barreira para sentimentos contrários, auto-enganação, poder dos pais ou dos adultos perante crianças, desprezo, etcs.
Uma parte ela fala de Ingmar Bergman, numa entrevista onde ele relata sua infância, e de como ele mesmo cria ilusões, mesmo tentando ser o mais sincero possível e também toca de leve no tema legal da possibilidade do artista explorar seus traumas pela via da arte, tendo essa possibilidade saudável que a maioria das pessoas não têm.
Nas páginas finais ela fala de Hermann Hesse ("a depravação do mundo infantil de Hermann Hesse como exemplo de mal concreto") , mas eu ainda não li, faltam umas 10 páginas pra eu acabar o livro.
E é até legal ter o livro para reler toda hora.
Quero agora ler outro livro dela, A Verdade Liberta.
Fica a recomendação, muito boa leitura mesmo. E nos deixa com mais noção da responsabilidade de sermos pais.
Só queria lembrar onde eu vi a recomendação desse livro. Lembro que li a dica e anotei o nome na hora... e acho que foi recomedação de alguma personalidade numa entrevista mais do que uma simples crítica literária.
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sábado, abril 16, 2005
Reencarnação (Birth)
Filme extremamente interessante realizado por Jonathan Glazer. O tal tema do filme aparece explícito no título nacional e mesmo no filme as primeiras falas estabelecem o que vai ser a história. No final das contas não sei se isso importa pois há planos maravilhosos que acho que mesmo isolados teriam o mesmo efeito em mim, como a morte no inicio (excelente uso de música erudita), a recusa do contraplano quando o garoto entra na sala de jantar, o plano logo a seguir do desmaio do garoto (quando o casal entra no elevador), e o longo take de Nicole Kidman no teatro que para mim poderia continuar até o final do filme que sairia em êxtase (no equilíbrio do uso da duração do plano e também nos olhares de Nicole - caso fosse outra atriz não sei o quão impactante seria para mim - e confesso, quase chorei de emoção por esse plano). Durante esse plano fiquei pensando na Joana D'Arc de Dreyer e em Bergman (Persona)... Nicole, não preciso dizer, está magnífica (e bela, bom ressaltar, por causa do visual diferente). Há toda uma criação de uma atmosfera estranha no ar nas atitudes dos personagens (Anne Heche logo no início), na fotografia (lembrando filmes dos anos 70, Bergman, tudo esmaecido), no uso do som e da música (do som lembra muito Lynch) e nas mudanças de ritmo e tom. O porém que se possa apontar é o caminho tomado no final. Num todo o final escolhido pode ser visto com ok, que conclui bem o filme, mas acho que destroí algumas belas possibilidades como a mais óbvia que seria de não resolver o mistério. Ou então concluindo de uma forma que a idéia original (reencarnação) não fosse descartada, mas utilizada à favor dos personagens (talvez algo altruista de libertação do amor por parte dele). O mais complicado é que o final optado proporciona uma ótima cena que é de Anne Heche desmascarando tudo. O que me desagrada neste final? O personagem de Nicole Kidman se torna patética (isso é interessante num certo sentido, mas...) já que ela é enganada por uma criança, foi enganada pelo falecido marido e se casa com um homem que claramente demonstrou ser imaturo e violento (e pior, com uma criança). Presenciamos o fracasso da existência dela (esse o lado interessante), mas me pareceu cruel demais para um personagem que acabamos nos importando durante a narração (ainda mais diante da aspereza com que todos os outros - mãe, irmã, noivo - tratam o tema de uma possível reencarnação ou outro mistério). Seria aquele desespero final a tomada de consciência dela? Mas aquele final se encaixaria mesmo numa estrutura que não desacreditasse o garoto por completo. A coisa do marido tê-la traído e não a suportar e ela sentindo tanto amor por ele não é explorada a ponto dela tomar conhecimento disso, só o público sabe, fazendo com que ela se rebaixe diante de nós, para que tenhamos um misto de pena e regojizo ("como é idiota"), e isso é algo que não gosto como está ou ficou. Por não deixar nenhuma porta aberta para o mistério (ao menos não notei em toda a parte final algo que indicasse que o desmascaramento não foi o que foi) o filme perde um pouco de seu encanto, mas fica a boa impressão do projeto e da direção.
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sexta-feira, abril 15, 2005
Visitors (Idem)
Que ótima surpresa! Fui ver esse filme exclusivamente pela Radha Mitchell de quem sou fã e estava esperando um terror B australiano, mas fiquei surpreso por encontrar um filme bem envolvente, com ótimo clima de suspense que se sustenta até o final. Melhor, há toda uma jornada pessoal da protagonista que traz maior significância à trama. Radha faz uma velejadora que partirá sozinha para uma volta ao redor do globo tentando quebrar um recorde. No meio da viagem coisas estranhas começam a acontecer e seus demônios pessoais se misturam nos acontecimentos. Seus relacionamentos com a mãe, o pai e o marido entrarão em conflito. O uso do diálogo interior é muito bem posto, inclusive com uma nada forçada maneira do gato dela interagir. Nunca fica claro o que realmente está acontecendo de verdade em certos momentos e uma cena importante poderia ser pessimamente concluída se optasse por deixar claro se foi um sonho, um pesadelo, uma alucinação ou outar coisa qualquer. A transição para a cena seguinte era crucial e o filme consegue fazer isso, como se fosse mais um acontecimento e assim deixando o espectador intrigado. Em certo momento um tom de farsa pode aparecer, mas há sempre algo fora do lugar que nos deixa na dúvida do que diabos realmente ocorre. O início do flashback, ainda bem, não é sinalizado (do tipo, um mês atrás) e quando acontece o tempo não é linear (uma hora algo do passado recente, outra da infância). Acompanhamos Radha do começo ao fim, o que para um fã é uma maravilha. A direção de Richard Franklin é competente, não abusando de sustos fáceis e que me lembre desde Os Heróis Não Têm Idade que não faz um trabalho bom assim (ele é bem conhecido pelo Psicose 2). Seria um problema se o final estragasse as coisas; se finalizasse de uma forma "alegre" seria banal, se quisesse "chocar" desviaria do ponto principal só para o público ficar atônico, então o final encontrado foi bom, que vem de encontro ao que o filme fala. Enfim, vale a conferida.
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quinta-feira, abril 14, 2005
O Chamado 2 (The Ring Two)
Não era particularmente fã do primeiro e mesmo os Ringus nipônicos só considero bons (o primeiro melhor que o americano em certos aspectos). A vinda do diretor original para a continuação americana não deixa de ter aquele toque esquizofrênico de hollywood. Desagrada-me partes dessa continuação com destaque para o menino, não sei se mal escrito, mal interpretado, mal dirigido ou os três juntos. A história me fez lembrar (negativamente) de Os Esquecidos, com a tal relação mãe e filho. O ajudante masculino outra vez é inútil, vazio e insignificante. Não tem como não achar o começo uma paródia (mais Pânico do que qualquer outra coisa). A seqüência dos veados (veados?) é boa no início e mal feita digitalmente depois, tornando a cena engraçada. Fora todos os poréns (uma mistureba requentada de muitos filmes, até Poltergeist) outra coisa mais irritante é que nem o final é bem feito. Aquela tela preta seria perfeita para o fim do filme (no máximo a voz do garoto chamando Rachel, Rachel), tudo que vem depois estraga o potencial daquela seqüência.
Sob O Domínio Do Mal (The Manchurian Candidate)
Bom filme de Jonathan Demme atualizando o filme de 62 com Frank Sinatra. Lançado num momento oportuno politicamente o filme conseguiu um elenco notável e um roteiro muito bem escrito. Fora isso Demme consegue momentos muito bons que até independem de alguma história por detrás (o afogamento do senador e sua filha pode até ser desnecessária em sua duração, mas é incrível cinematograficamente na sua construção). A cena do banho entre Meryl Streep e Liev Schreiber é excelente na forma como foi filmada e atuada (além de perversamente sexy). A parte final (que não lembro do filme original) também é eletrizante pelos jogos de olhares entre os envolvidos. Uma refilmagem digna.
Galera Do Mal (Saved!)
Menos ácido do que eu esperava. Produção de Michael Stipe com elenco jovem de ponta (só gente boa). Achei que a parte religiosa seria mais forte, mas tudo fica no limite do humor. Não tem o que dizer de Jena Malone, ela é maravilhosa e pronto. Mandy Moore continua traçando uma carreira muito interessante. A filha de Susan Sarandon mostra que tem talento e o saudoso Culkin está bem. Pena Mary Louise Parker não ter mais espaço. E eu já falei da Jena Malone? hehehe
A Filha Do Presidente (First Daughter)
Estranho ver como os cineastas negros ficaram tão confortáveis no sistema. Depois de Spike Lee veio uma onda de filmes negros (na frente e atrás das câmeras) tocando em assuntos bem particulares (os guetos e gangues, por exemplo) ou mesmo pegando gêneros "brancos" e colocando apenas negros (comédias românticas, faroestes). Não fosse pelos créditos não dá pra acreditar que esse filme foi dirigido pelo Forest Whitaker. A história de uma filha de presidente (ambos brancos) entrando para a universidade é tão tradicional... Claro que há coadjuvantes negros, mas é algo tão comum hoje em dia que parece que toda garota ou mulher americana branca tem uma negra de colega de quarto (ou amiga íntima). É como os chefes de delegacias em todo filme americano: o ator é negro (ou mais recentemente, latino!). Bom, se fizessem mais policiais por aqui haveria de ter japoneses como delegados pela quantidade que aparece nos noticíarios (ao menos paulistas). Enfim, é um veículo para Katie Holmes, adorável como sempre. A trama é bem similar ao Curtindo A Liberdade com Mandy Moore, principalmente por uma surpresa na narrativa, mas o enfoque é diferente, e no filme de Whitaker as questões que envolvem a filha de um presidente são mais plausíveis (levemente baseado na trajetória da filha de Clinton na universidade). Notar numa cena um Forest rejuvenescido que na verdade é seu filho (até o olho esquisito herdou do pai). As transições de cena têm aqueles truquezinhos que podem até agradar.
Entreatos
Não foi exatamente o que esperava. Achei que o material rendeu pouco diante de tal fato histórico. Não sei se ficou na sala de montagem ou realmente o lado mais público que era o melhor (quando o documentário privilegia o contrário). Há cenas muito boas como no cabelereiro, algumas no avião, algumas gravações e a recepção da vitória, mas outras bem maçantes que pouco fazem para se situar num ambiente (nunca temos uma boa noção de onde se está, o foco é tão centrado no personagem principal que todo o resto fica apagado - o que não deixa de ser negativo, dando a impressão que o próprio personagem é auto-centrado demais). Como em Nelson Freire Salles não se importa muito com o som, deixando muita coisa pouco compreensível (compensada pelo uso da legenda em certos trechos) o que no caso de Lula é ruim, pois boa parte de sua figura vem da fala (das histórias que conta dele mesmo por exemplo) e não necessariamente de gestos (ainda mais no particular). A câmera às vezes é indecisa demais, no que enquadra e no que foca. A idéia do projeto já acho incompleta, só acompanhar um dos candidatos (diante das circunstâncias, fosse outra campanha o foco só em um não me incomodaria tanto). Não sei se alguém alheio à política nacional (um espectador de outro país vendo esse documentário sobre o candidato à presidência do Brasil) se manteria interessado durante toda a duração pois muita coisa conta com o entendimento implícito dos personagens, da situação e dos fatos discutidos. Dois momentos de meu maior interesse fora as falas de Lula: a gravação da campanha com a platéia e Ciro (comédia dos absurdos ter Duda ali como o orquestrador de tudo) e o grupo de pesquisa diante do debate ao vivo (pensava que aqui as coisas eram tão atrasadas que nem isso faziam). Uma das partes mais engraçadas: nosso vice presidente e sua rinite no avião. Extremamente curioso a parte da vitória, pouco entusiasmada pela equipe e principalmente pela família (fica parecendo que os filhos, nora e neto, nem se dão bem com Lula) enquanto que publicamente (no discurso na Paulista) a emoção que predominou (encenação?). Bem, coisa de político... O personagem Lula é muito interessante no que projeta e não no que é. Fiquei é com saudade de rever The War Room que mostra os dois articuladores da campanha de Clinton em 1992.
A Ilusão Viaja De Trem (La Ilusión Viaja En Tranvía)
Um bom filme da fase mexicana de Buñuel onde aqui e ali ele coloca no que seria uma simples comédia seus tão queridos temas. A viagem dos dois amigos no bonde à noite e de dia revela o gosto pela liberdade e também os acasos do cotidiano. Hilária a encenação da peça para o povo falando de Adão e Eva de forma mais subversiva. Outros preciosos momentos são os acougueiros entrando no bonde, as duas religiosas exploradoras com a estátua de Cristo, o caos diante dos contrabandistas de comida, e o burocrático ex-funcionário da companhia. A "aventura" da dupla me fez lembrar de Ken Kesey e os Festivos Gozadores que partiram pela América num ônibus 'psicodélico' o que seria extremamente interessante se Buñuel chegasse a fazer um filme em cima desse episódio.
Constantine (Idem)
Ou a propaganda anti-fumo mais bem produzida de todos tempos. Sim, porque depois de tudo eis a 'mensagem' que mais fica na mente. Conheço quase nada do personagem dos quadrinhos, a não ser o começo de Hábitos Perigosos na Vertigo 1, mas dá pra perceber que o do filme é bem mais suave em vários aspectos (não é um Bukowski das hqs). O filme mesmo tendo duas horas passa rápido e talvez até demais já que a luta final me surpreendeu pelo momento, quando percebi que era o final pensei, "mas já?". Gostaria até de uma história mais bem desenvolvida com esses personagens. A fotografia é extremamente interessante no início, com composições muito bem pensadas que não sei se continuam durante o filme. Keanu (e o filme por causa dele) continuam com resquícios de Matrix. Rachel Weisz tem um poder de imagem tremendo. Curiosidade que Keanu e Rachel trabalharam juntos 8 anos atrás em Reação Em Cadeia. A estréia de Francis Lawrence ao menos não é decepcionante.
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terça-feira, abril 12, 2005
Juliette & The Licks
Em Outubro do ano passado Juliette Lewis e sua banda lançaram um EP com 5 canções, ...Like A Bolt Of Lighting e agora em Maio chega o álbum, You're Speaking My Language. Apenas uma das canções do EP aparece no álbum (mas remixada). São 11 novas.
Enquanto isso ouçam a melhor canção do EP, Comin' Around.
E vejam o clipe de Shelter Your Needs.
01. Intro 02. You're Speaking My Language 03. Money In My Pocket 04. American Boy - Vol. 2 05. I Never Got To Tell You What I Wanted To 06. This I Know 07. Pray For The Band Latoya 08. So Amazing 09. By The Heat Of Your Light 10. Got Love To Kill (Remix) 11. Seventh Sign 12. Long Road Out Of Here
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domingo, abril 10, 2005
Pretty In Black - The Raveonettes
Que delícia esse álbum! Deixei passar o primeiro álbum da banda, ouvindo poucas e não prestando muita atenção, mas com esse lançamento fui agarrado logo nas primeiras canções que ouvi. Quando ouvi Ode To L.A. (que tem uma participação MUITO especial) me entreguei por completo, canção maravilhosa (uma das melhores do ano)! O mais engraçado é que as referências são tão explícitas que só de ouvir a primeira que baixei (Sleepwalking) pensei de imediato: Phil Spector! Depois fui ver que realmente ele é uma referência forte, fora todo cenário musical dos anos 60 (e também filmes B, visuais, etcs). É tanta coisa que gosto sendo referenciada e retrabalhada que não tem como não gostar. Um Roy Orbison passa por uma faixa, Hank Williams por outra, e John Hughes no título, e Beach Boys, e Dixie Cups, e Summertime Blues, e tantas outras que eu imagino mas nem tenho certeza que a banda tem como referência. Como uma resenha fala: "where The Velvets and Jesus & Mary Chain meet The Dixie Cups and Ronettes in a Spectorised churn of feedback and fuzzy jingling guitars". Um excelente álbum com lançamento para Maio mas já disponível na internet.
01. The Heavens 02. Seductress Of Bums 03. Love In A Trashcan 04. Sleepwalking 05. Uncertain Times 06. My Boyfriend's Back 07. Here Comes Mary 08. Red Tan 09. Twilight 10. Somewhere In Texas 11. You Say You Lie 12. Ode To L.A. 13. If I Was Young
Agora é ir atrás do primeiro, Chain Gang Of Love!
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sábado, abril 09, 2005
As Feras
Várias histórias envolvem este filme, passando da idéia original (um curta antigo de Khouri), às filmagens (a criação de uma história ao redor desse curta) e o engavetamento por anos. Este seria o perfeito filme testamento de Khouri por tudo que traz sobre sua vida e obra, num tom melancólico. É um corajoso retrato da falência do macho e também da condição de Khouri como cineasta (há uma crítica de Daniel Caetano que aborda melhor esse ponto). Sua habilidade com atrizes consegue até que Claudia Liz interprete bem (ou ao menos suas falas não soam artificiais), por outro lado Luis Maçãs exagera na dose (e por pouco não estraga o personagem no fim de sua participação). Nuno Leal está bem e as outras atrizes servem ao propósito (os olhares delas são significantes, fora que são belos rostos). Ainda incomoda algumas construções de cenas que parecem amadoras (como nos planos dos aparelhos de som) e alguns closes são postos fora do ritmo da seqüência (com até um close errado, onde um personagem olha na direção errada). Os diálogos (não sei se por causa da contribuição de Lauro César Muniz, noveleiro que entende de diálogos), mesmo que sendo às vezes explicitamente discursivos (monólogos melhor dizendo), conseguem uma naturalidade (ficam no limite do crível). Há um mistura contraditória de amor e ódio para com as mulheres, o amor pela força natural e o ódio pelo desprezo natural. O final não deixa de ser triste em vários sentidos mas principalmente na constatação do próprio Khouri de sua condição final.
O Casamento De Romeu & Julieta
Bruno Barreto tem uma carreira que até hoje se equilibrou entre os filmes nacionais e internacionais. Em nenhum dos lados cometeu grandes erros ou acertos, pode-se dizer que sempre foi um cineasta mediano. Até seu maior fracasso, Voando Alto, não chega a ser ruim, mas mal configurado. De todos os filmes que realizou não consigo apontar um que ache ruim e nenhum que ache excelente. Este novo filme é exemplar, um filme de acertos e erros que se mantém no todo. Querendo ser chato dá pra reclamar das interpretações desencontradas, da indecisão de tom para o filme (que muda de cena para cena), das cenas de futebol mal coreografadas, mas também não dá para deixar de lado cenas realmente engraçadas e interpretações boas de Marco Ricca (o que não é novidade) e Luiz Gustavo além de um tema de identificação imediato (seria o caso de eu ser corinthiano?). Há até uma enganação (proposital ou não) sobre o foco da narrativa; se vermos a estória, o título e todo o resto tudo leva a crer que o casal central é o destaque, mas é o papel do pai da noiva que tem o poder emocional, ele que tem mais falas e importância, afinal é ele que não sabe e não aceita o que todos sabem e aceitam facilmente (o fato do futuro genro ser torcedor de outro time). O sofrimento é todo voltado para o pai, ele que tem um arco mais interessante de se acompanhar, o genro acompanha, mas o resto é quase acessório (é de se pensar que Luana Piovani tem um personagem que até poderia não existir caso não fosse realmente necessário, fora que sua interpretação é quase nula). Coitada da Mel Lisboa que, essa sim, é um nada no filme (infelizmente). E que diabos é o lance da mágica? Posso citar uma cena significante desse personagem: ela gritando que também não se importa com futebol. E só! Los Hermanos aparecem na trilha com pelo menos duas canções (de uma delas só é usado a parte instrumental, a outra até vira mini clipe dentro do filme). Enfim, um bom filme médio.
Um Presente Para Helen (Raising Helen)
Jovem assistente de moda, avançando bem na carreira recebe a notícia que uma de suas irmãs morreu com o marido num acidente e à ela é deixado a guarda de seus três filhos (com idades variando de 5 à 15). Arma-se a confusão. O que se espera se encontra nessa comédia dramática de Garry Marshall com a sempre graciosa Kate Hudson. Aqui ela tem uma competidora: Hayden Panettiere, que desde cedo é uma atriz de destaque (fez a filha de Ally McBeal por exemplo) e faz a filha de 15 anos, começando a sair com caras e aprontar. O tom do filme é até disciplinador, ela vai ter que ser rígida se quiser criar os três, senão ela desiste e pode deixar as crianças com a irmã mais velha e experiente, só que não quer desistir por causa do pedido da falecida irmã. O filme não chega exatamente a muitos lugares, é bem tradicional e já visto, mas essa insistência em ficar com as crianças (quando fica claro que elas podem vir a atrapalhar sua carreira e vida) se torna o motivo do filme: o amadurecimento da protagonista (evidente já no título original). Curiosamente Kate Hudson ficou grávida durante as filmagens e passou pelo mesmo processo de amadurecimento enquanto filmava. Sessão da tarde.
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quinta-feira, abril 07, 2005
Cold Roses - Ryan Adams & The Cardinals
May 3, 2005
Disc 1
1. Magnolia Mountain 2. Sweet Illusions 3. Meadowlake Street 4. When Will You Come Back Home? 5. Beautiful Sorta 6. Now That You're Gone 7. Cherry Lane 8. Mockingbirdsong 9. How Do You Keep Love Alive?
Disc 2
1. Easy Plateau 2. Let It Ride 3. Rosebud 4. Cold Roses 5. If I Am A Stranger 6. Dance All Night 7. Blossom 8. Life Is Beautiful 9. Friends
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Só Cotação...
Ônibus 174 *** Anjos Da Noite – Underworld (Underworld) **1/2 O Custo Da Coragem (Veronica Guerin) **1/2 Wimbledon – O Jogo Do Amor (Wimbledon) *** Sanjuro (Tsubaki Sanjuro) ***1/2
Ah a preguiça!
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terça-feira, abril 05, 2005
X & Y
06/06/2005
01. Square One 02. What If 03. White Shadows 04. Fix You 05. Talk 06. X&Y 07. Speed Of Sound 08. A Message 09. Low 10. The Hardest Part 11. Swallowed In The Sea 12. Twisted Logic
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sábado, abril 02, 2005
Geração Prozac (Prozac Nation)
Filme muito bom que toca no tema da depressão baseado num livro autobiográfico de Elizabeth Wurtzel. Christina Ricci tem uma de suas melhores atuações (ela co-produziu o filme) auxiliada por um bom elenco que conta com Jessica Lange, Michelle Williams, Anne Heche, Jason Biggs (o filme foi feito antes de Anything Else onde Ricci e Biggs fazem novamente um casal) e Jonathan Rhys-Meyers. Ricci faz uma jovem que acabou de entrar para Harvard com intenções de estudar jornalismo e virar escritora com um passado um pouco problemático e anti-social. Após algum tempo de diversão na universidade os problemas começam a acontecer até ela entrar em depressão e se isolar. A mãe, a amiga, a terapeuta e o novo namorado vão de alguma forma tentar ajudá-la, mas só complicam ainda mais as coisas. Talvez o retrato não vá mais fundo no que ela passa (o sexo e as drogas são mostradas, mas nunca de forma chocante), mas não acho que seria necessário mostrar o fundo do poço pois assim fica claro que a depressão atinge vários níveis e pode até ser confundida com "frescura" ou "fase". É de se supor que o livro se aprofunde mais na depressão. Outro ponto positivo vem do fato de retratar o quanto as pessoas em volta de uma pessoa em depressão não sabem lidar com isso e também de que a resolução passa mais por um controle e aceitação do que uma "cura".
Para fãs de Ricci (como eu) não dá pra perder ela nua logo no início num quarto onde há um poster de Bruce Springsteen pendurado (que aliás é um erro cronológico - o poster é de Tunnel Of Love de 87 quando a história no momento se passava em 85)! A personagem é fã de Bruce (uma canção dele é tocada) e também de Lou Reed que faz uma participação especial no filme. Frustrante para Ricci que o filme ficou no limbo e acabou lançado discretamente anos depois somente na tv, justo num projeto e num personagem que fica claro que ela investiu pessoalmente.
O Retorno De Sweetback (Baadasssss!)
Um filme excelente sobre a filmagem de Sweet Sweetback's Baadasssss Song, o clássico blaxploitation de Melvin Van Peebles. Mario, seu filho, resolveu fazer um filme ao invés de um documentário, mas num formato meio de documentário, com ele representando seu pai. Essa opção dá mais dinamismo ao filme, podendo interessar mais público do que se realizasse um documentário que estaria mais voltado aos cinéfilos. O livro de Melvin já cumpria essa função documental da história. Mario também dirigiu o filme (sempre foi um cineasta interessante desde episódios para as séries Anjos Da Lei, O Homem Da Máfia e R.H.D. até filmes como New Jack City, Gangue Do Mal, Panteras Negras e até o estilizado western Posse). Michael Mann foi um dos principais responsáveis do projeto tomar forma, sendo produtor executivo. A saga da filmagem é fascinante nas dificuldades da produção, nas ambições sociais de Melvin, na sua personalidade obsessiva que passava por cima até de sua família, amigos e saúde própria, e na paixão pelo cinema (e seu poder). Essa paixão até lembra outro filme sobre um cineasta, Ed Wood, só que o de Mario tem toda essa questão social e racial que o filme de Melvin continha, além da independência e da filmagem de guerrilha. As filmagens me fizeram lembrar de um filme muito especial para mim que é Vivendo No Abandono que é quase O filme sobre filmagem. Ao final vemos depoimentos dos personagens reais. No dvd o making of, uma palestra de Melvin com estudantes e a premiere do filme, além de comentários em aúdio dele e do filho. Obrigatório!
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