Cheio de absurdos, mas divertido, ligeiro e que prende atenção. A maneira em que a narrativa volta é a pior coisa do filme; da primeira vez, tudo bem, mas voltar sempre da mesma maneira é irritante e nada criativo. A lógica da trama é tão coerente como a da série 24 Horas e o legal é que o filme pouco se interessa em explicar bem o que ocorreu, principalmente se isso não traz tensão ou ganchos para que a narrativa continue. Um dos engôdos do filme é que na verdade aquilo que ocorre na ação principal da trama, a qual ela sempre volta, não tem segredos que possam ser desvendados pelas sucessivas revisões, como o filme tenta vender, tudo é possível a cada adição que os roteiristas criam - temos apenas que ter uma reação passiva diante da imagem ao contrário de raros outros filmes que nos dão toda a informação e cabe a nós montar o quebra cabeça.
Loucas Por Amor, Viciadas Em Dinheiro (Mad Money)
Com o tempo fui vendo que Diane Keaton tem a fama que tem devido a pouquissimos trabalhos importantes, o maior deles Annie Hall. A partir do meio da década de 80 que ela foi fazendo cada vez mais trabalhos comerciais rasos. Esse não foge à regra. Há a comediante (Queen Latifah), a bela jovem (Katie Holmes) e ator da mesma idade (Ted Danson). A trama envolve um esquema para roubar dinheiro do banco federal. Algumas notas e curiosidades: Katie Holmes, pós-Tom Cruise e Suri, até que não perdeu o seu lado inocente (o que parecia ter acontecido pelas fotos de família), ainda tem aquele lado Joey nela; Ted Danson faz um personagem semelhante (só que cômico) ao que fez na série Damages; a diretora Callie Khouri foi a roteirista de Thelma & Louise; o filme é uma adaptação do filme inglês Hot Money que é baseado num fato real. Ao menos o filme não termina condenando a ação realizada pelo trio, evitando a lição de moral.
O seriado se mostrou excelente mesmo com seu esquema diferente de ter episódios diários e uma temporada de 43 episódios. É quase uma terapia intensiva via tv. E nisso contém suas melhores qualidades e seus pequenos defeitos. Sim, afinal nada é perfeito e no processo temos que relevar certas coisas, como, por exemplo, a rapidez com que certos casos tiveram que ser concluídos, afinal uma boa terapia leva anos. Também há a necessidade de uma conclusão, mesmo que não definitiva e isso teria que levar bem mais que 9 semanas (lembrando que dos 4 casos apenas 2 têm um início anterior ao que o seriado focaliza, sem contar que o próprio terapeuta entrando em análise seria um novo caso). Daí que seria muito bom que a série continuasse, mas ainda não há uma posição sobre isso (a série original teve segunda temporada). O tempo reduzido também prejudicou algumas situações, principalmente em episódios onde uma nova pessoa é introduzida. É muito pouco tempo para que ela possa chegar ao estágio de abertura emocional que a série necessita e com isso alguns momentos soaram forçados (mas mais bem realizados em um caso e menos em outro). Apenas um episódio não foi baseado na série israelense e é o mais polêmico pois quebra vários padrões do que vinha sendo desenvolvido. Ainda não sei se foi algo realmente necessário. E há mais para o final alguns cortes que a série americana não quis abordar ou resolveu organizar de outra maneira.
Das semanas que tinha visto até o final algumas coisas mudaram. Houve uma semana catártica onde todos os episódios chegaram num clímax e foi difícil conter as lágrimas em cada um deles. E aos poucos certas coisas se modificaram e foram acrescentadas. Como muito do poder do seriado vinha de cada história e cada personagem há uma saudade e uma tristeza quando vemos que não há como continuá-las num futuro, o processo terapêutico acabou. Mas há sempre o protagonista, que foi o elo de tudo.
O desenvolvimento minimalista da série (um cenário, dois atores, conversas) potencializou todo o resto num nível como poucos seriados conseguiram trabalhar. Já falei do trabalho extraordinário de som da série, onde sons adquirem personalidade e uma importância enorme, sendo as mais marcantes, sem dúvida alguma, a da maçaneta da porta de entrada e a porta da cerca na saída. E isso, fui pensar depois, não é apenas algo de uma série, mas de algo muito ligado à terapia, seja com coisas características que se tornam familiares até reações de cada paciente diante dos mais variados estímulos. Fora o som tudo é bem cuidado para tanto dar um ar de realismo como para acrescentar símbolos que reforcem momentos de cada episódio. Assim, a câmera não é posicionada à toa, o fundo adquire força, a garrafa com o líquido que calmamente balança constantemente aparece em momentos chave ou então os livros na estante ou mesmo o clima do lado de fora. Entramos nas minúcias das mãos de Paul, como ele mexe naqueles óculos quando ouve ou fala, como suas mãos se portam, como seu corpo reage - e também nos pacientes, alguns mais óbvios como as situações que Alex retira seu casaco, outros mais sutis como Sophie utiliza o sofá ou Laura se veste.
A série também proporcionou a redescoberta de Gabriel Byrne (ao menos para mim), a chance de um papel forte para Dianne Wiest, a possibilidade de mostrar que Melissa George não é apenas um rosto (e corpo) bonito, a surpresa de perceber que Embeth Davidtz não era uma desconhecida, mas sim sub-utilizada, a revelação da jovem Mia Wasikowska e que todos os outros atores (Michelle Forbes, Blair Underwood (incrível que em The New Adventures Of Old Christine faça um tipo totalmente diferente no mesmo ano), Josh Charles e Mae Whitman) têm força quando bem utilizados.
Rodrigo Garcia foi o grande responsável pela série, dirigindo e escrevendo (adaptando) boa parte dos episódios. E é de seu trabalho que a série mais se assemelha. Como não lembrar de cada história detalhada contada em Confissões Amorosas, Coisas Que Você Pode Dizer Só De Olhar Para Ela e Questão De Vida, assim como seu trabalho com os atores? Ele vai construindo devagar uma bela obra sobre as particulariedades do ser humano. Depende muito dele e de Byrne a continuidade da série, pois sem eles não há uma.