quinta-feira, junho 30, 2005
Ela não é demais?
Sarah Silverman que vem aí com Jesus Is Magic.
Um pouquinho mais dela, aqui.
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Guerra Dos Mundos (War Of The Worlds)
Impressionante como eu sempre acho que Spielberg vai fazer uma coisa e faz outra. A questão do olhar me surpreendeu pois era algo que não esperava (não tanto assim, já que as cenas e o trailer apontavam para isso). Preciso até rever para apreciar mais esse lado. O que cada personagem vê ou deixa de ver é interessantíssimo. A garotinha (Dakota Fanning, extraordinária) assume boa parte da visão do filme, seja no chamado para ver algo no quintal, no que ela não vê o que o pai viu, no que ela mostra para ser visto (um fiapo na mão), no que ela não quer que seja visto (ela indo fazer xixi), nos corpos do rio, no que ela não pode ver (a destruição fora da casa da mãe), o que ela presencia de mudança ao que passa pelos seus olhos da janela do carro (enquanto o pai dorme) e se defrontando com as pessoas os cercando (com o tiro "right between the eyes" no parabrisa), acabando não vendo o que acontece com o homem que pega o carro, nas árvores que estão estranhas (antevendo o ataque), na noção de mortalidade pelo que não vê (na escuridão ela pergunta: "estamos mortos?"), no que o pai faz com o paranóico, o alien que olha para ela (e ela se olhando no "olho" dele), no olhar em choque quando pega pelos invasores, enfim... muitos etcs.
E ainda temos dezenas de outros momentos assim (a câmera no chão presenciando a primeira morte, o alien se olhando no espelho ou olhando fotos, os reflexos de tvs, espelhos, retrovisores, a fita da repórter, o fascínio do filho em ver o que o exército fará, o casal que viu a garota sozinha e não viu o pai, os olhos do alien secando demonstrando sua morte). Chegando até o final (ou o início) no que não é visível para nós (e talvez para os aliens) que causa a derrocada dos "vilões".
Há uma mistura curiosa no que Spielberg já abordava em filmes anteriores sobre esse tema (o mais óbvio é Minority Report) e no que David Koepp também trabalhava (no roteiro de Olhos De Serpente, por exemplo ou na direção de A Janela Secreta).
A questão da pulverização dos humanos à primeira vista parece uma amenização, mas assume um lado bem mais aterrador. Primeiro o simples fato de uma pessoa deixar de existir assim, num piscar de olhos, virar pó. E depois o ótimo paralelo com as cinzas. Qual a evidência da morte de centenas de pessoas cremadas nos fornos dos campos de concentração nazistas? Cinzas (em A Lista De Schindler há uma cena sobre isso).
A reversão das coisas no filme é outro aspecto curioso, a construção narrativa parece ao contrário, clímax logo no início para um final anti clímax (o primeiro pensamento logo ao notar a volta da narração ao final: "ué, mas acabou?"). Os aliens vindo de dentro e não de fora. A angústia e tensão colocados no início (os aliens mostrados logo de cara, quando o normal seria deixá-los ocultos para a revelação final) quando mal conhecemos os personagens são fortes e emocionais (o desespero no carro, com a câmera entrando e saindo do veículo, me deixou extremamente perturbado, com medo mesmo da perda da noção de realidade). Mais coisas surreais acontecem, deixando um clima de terror no ar (o trem em chamas é fascinante, a multidão em desespero é apavorante pelas atitudes, como um dos homens querendo abrir à mão o buraco no vidro do carro, o que lembra Tom Cruise em outra fenda, a dos aliens, como um parto).
Para se pensar na sobrevivência do filho, se era necessária ou não. Creio que vai ser alvo de muitas críticas (como muitos finais do Spielberg). Eu sabia que ele estava vivo, mas acho que não é isso o que a maioria vai achar.
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terça-feira, junho 28, 2005
Ladrão De Diamantes (After The Sunset)
Aventura meio banal (também, Brett Ratner na direção...). Mas é sempre um prazer ver Salma Hayek. Curiosamente nos extras, numa entrevista coletiva no programa do Charlie Rose a Salma parece ser a única que entendeu o filme, a relação infantil e homoerótica do ladrão e do agente e o processo de amadurecimento deles para que estejam prontos para o próximo passo: uma relação com uma mulher. Ratner, ao menos dentro do limite do tipo de filme que está fazendo, abusa da Salma em cenas quase gratuitas dela se abaixando para a câmera, ficando de biquini, etcs. Isso fica mais óbvio no que ele diz durante a promoção do filme e no que a própria Salma é consciente desta exploração. Há um longo antes, durante e depois da realização do filme nos extras (mais de uma hora!) que serve para mostrar o quanto Ratner dirige mal (ou se quer dirige mesmo), as diversões no set (nesse ponto Ratner é bom, só ele pra fazer pegadinhas com Pierce Brosnan numa cena de cama, por exemplo) e a graça de Salma atrás das cãmeras.
Entrando Numa Fria Maior Ainda (Meet The Fockers)
Como o primeiro tem coisas engraçadas e outras sem graça. A presença de Dustin Hoffman e Barbra Streisand ajuda a melhorar o clima. Na confusão familiar parece que tanto os "republicanos" quanto os "democratas" são chatos pra caramba. Pena que a noiva seja deixada de lado, a ênfase é nos pais (e no garoto, muito bem dirigido).
Team America - Detonando O Mundo (Team America - World Police)
Engraçado em algumas partes, meio escroto em outras, uma sátira aos arrasa quarteirões do Jerry Bruckenheimer que mal disfarça a intenção de ser um também. O mais interessante é o processo de feitura que aparece nos extras, um excelente trabalho. E a dupla criadora revelando que odeia atores, por isso eles dublam a maioria dos personagens e fazem seus filmes com desenhos toscos (South Park) ou marionetes. Fica mais evidente o lado republicano deles ao centrar as gozações no vilão coreano e nos atores engajados de Hollywood. Dá pra ver o prazer dos dois quando os atores são metralhados, queimados e esquartejados. Duas ótimas piadas: a classificação dos seres humanos (dicks, pussies and assholes) e o "sacríficio" do herói para salvar a equipe. Não indicado para menores hehehe
Star Wars - Clone Wars (Idem)
Excelente! Genndy Tartakovsky realmente é foda! Os 20 episódios da primeira temporada de 3 minutos cada são action non stop e têm tudo o que queríamos ver em Star Wars que não vimos. Agora preciso ver a segunda temporada.
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sexta-feira, junho 24, 2005
Batman Begins (Idem)
Finalmente fizeram um filme do Batman mais próximo ao personagem original! Não que fosse algo árduo diante dos exemplares anteriores (seja os filmes no cinema ou o antigo seriado de tv), mas parecia que a concepção mais realista passava longe da cabeça dos estúdios (precisou de um desastre para que isso ocorresse). Chega a ser o filme ideal do Batman? Não, mas estabelece uma sólida base para os outros filmes. Bem difícil fazer um Batman ainda mais seco, raivoso e violento diante de uma super produção. Mas Nolan conseguiu reverter várias coisas, recomeçando do zero. O tom realista é evidente em vários aspectos, começando pela origem, o treinamento e a concepção da criatura que será Batman. Tudo se adequa: os vilões são os mais reais e críveis até hoje, o batmóvel é o melhor disparado (um carro de combate oras! só tinha que ser esse tipo para o personagem), o uniforme além de ser o mais realista é o mais bonito e prático (mais uma vez, roupa para soldado), Gotham pela primeira vez parece uma cidade e não um cenário (como se filmassem em NY), a trilha evita os temas e é climática (e muita gente reclama que não houve um tema, mas seria ridículo para essa abordagem, é como se quisessem um tema para a trilha do Justiceiro, o personagem não comporta um tema musical, não é super herói) e a história se meio exagerada é de um plano militar e político ao contrário das fantasias de outrora. O elenco foi bem composto, revertendo imagens atuais de atores (só pensar no que Liam Neeson é para a platéia jovem de hoje e o que ele vira no filme, ou Gary Oldman há quanto tempo sem ser um exagerado vilão ou o protagonista, Christian Bale, fazendo de psicopatas à assassinos), sedimentando outros (Morgan Freeman e Michael Caine adequadíssimos nos papéis) e estabelecendo novos rostos (o jovem que faz o Espantalho e Ken Watanabe logo no início). Bale é o primeiro ator que faz um Wayne mais próximo do que seria o personagem, já que é um playboy atormentado (e raivoso no início) enquanto todos os outros eram no máximo apenas playboys (Michael Keaton sofrendo? George Clooney atormentado? Val Kilmer... Val Kilmer?!). Curioso que o filme pega a idéia que Tarantino expôs em Kill Bill 2 sobre o Superman e se encaixa perfeitamente aqui: Bruce Wayne é a máscara e Batman a verdadeira face do protagonista, toda a fachada de playboy é apenas isso, fachada para uma pessoa traumatizada que procura justiça (e para mim, se pune inconscientemente). Isso é bem diferente dos personagens da Marvel (Peter Parker, por exemplo, realmente tem a vida de Peter Parker, não leva uma vida falsa), seria essa inversão uma característica dos personagens da DC? É extremamente interessante essa oposição.
O que se pode lamentar um pouco é o não domínio de Nolan para cenas de lutas (picotadas assim como os outros Batmans feitos - de se pensar se isso não é por causa da armadura que impede os atores de fazerem coreografias em planos mais abertos).
Se formos pensar nos Batmans anteriores é engraçado ver que Batman & Robin (que enterrou a franquia como era) é o mais corajoso. Schumacher homoerotizou o personagem (incluindo um Robin), carnavalizou todo o projeto, fantasiou ao máximo os vilões (Schwarzenegger congelando Gotham!)... poxa, isso é fantástico! Jogar isso pro estúdio e pro público é demais! Os do Burton sempre foram dos vilões, no primeiro nem do Coringa era, mas de Jack Nicholson (uma ego trip milionária). E no segundo o Pinguim e a Mulher Gato (único segmento de qualidade, aparte de todo o filme, Burton se daria bem melhor fazendo Mulher Gato com a Michelle Pfeiffer, mas não o fez). Todos fantasiosos ao extremo que pareciam brincadeiras feitas em estúdio... Pra ver como os estúdios pensavam: Batman é um personagem "dark", chamem o Tim Burton! Tem que ter mais cores neste terceiro, chamem o Schumacher! Ao menos desta vez acertaram no perfil certo, Batman é um ser atormentado, chamem Nolan (o mais evidente em Amnésia e Insônia é que os protagonistas são atormentados), sem esquecer que Aronofsky estava no início do projeto (outro que não sei se daria bem nas cenas de ação).
Agora é esperar que o diretor da continuação consiga manter o realismo e a seriedade acrescentando uma habilidade maior nas cenas de ação (implicitamente dizendo que prefiro que Nolan não seja o diretor).
P.S. - gostei da utilização do gás alucinógeno que acabou em cenas boas de horror sem sair do realismo (e incluindo até homenagem ao Romero). E meu Batman ideal talvez fosse Billy Crudup (com Clint Eastwood na versão Cavaleiro Das Trevas).
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sábado, junho 18, 2005
Paz Vega
É difícil acabar de ver Espanglês e não sair quase que apaixonado por ela! Que maravilha!
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quinta-feira, junho 16, 2005
Cruzada (Kingdom Of Heaven)
Já vi o filme faz um tempo, mas só agora que vou escrever algo sobre. Se fosse no dia acho que sairia mais, agora dá uma preguiça... Bom, a primeira surpresa é que achei o filme mais do que ótimo, eu até diria excelente, mas não acho que tenha excelência em toda sua duração. Fiquei impressionado com algumas cenas, ou melhor dizendo, empolgado, o que é indício que realmente estou adorando o filme. Como o anterior de Ridley Scott, Os Vigaristas, também me entusiasmou e me pego vez ou outra relembrando cenas de seus filmes e querendo revê-los (semanas atrás eu tava querendo rever Chuva Negra sei lá por quê) e até os que não gostei estou querendo rever (Hannibal, Gladiador, Até O Limite Da Honra, 1492) acho que uma reavaliação de sua obra valerá a pena, já que nunca dei importância e cada vez mais acho interessante. Aconteceu isso com o famoso Blade Runner que nos anos 80 todo mundo falava bem e eu que tinha visto em fita pirata (ou mesmo selada, não lembro) achava chato. Quando surgiu a versão do diretor nos cinemas fui rever e sai muito entusiasmado, pois achei excelente (e raras vezes isso ocorre, geralmente é ao contrário, alguns que eu gostava bastante se tornam regulares depois). Até Falcão Negro Em Perigo que na época não me agradou passou a exercer um fascínio em mim, algumas cenas não saiam da minha cabeça e tive que comprar a edição dupla do filme (extras excelentes, falta eu rever com os comentários da equipe), fora o livro e a trilha (as últimas trilhas dos filmes de Ridley estão magníficas). Aí eu me lembro de Thelma & Louise que é um bom filme se visto hoje durante sua duração, mas o seu final é particularmente forte para mim (eu revi o final umas, sei lá, 200 vezes na época) pois era um final que queria pra mim (não exatamente como feito, mas terminar naquela euforia, com aquela liberdade e sim, saltar do grand canyon - só que com moto). Sei lá, acho que preciso rever os filmes dele, mesmo que continue não gostando de alguns.
Em Cruzada tem várias coisas que vão se alinhando dentro de sua carreira que são curiosas. A questão do fracasso é central, que gosto peculiar pelos projetos fracassados, o indivíduo ou grupo partindo em direção ao fracasso certo, mas ao mesmo tempo um fracasso aparente, social, na superficie, mas um encontro de outro estado de espírito (o que Thelma e Louise encontram ou Deckard e Rachael saem à procura ou mesmo o replicante Roy encontra ou os protagonistas de Vigaristas, Tormenta e Falcão Negro). Os casais marcados ou impossíveis mesmo que juntos (isso me faz querer rever ainda mais Hannibal pela relação Hannibal e Clarice). A ética (ou falta de) no combate, no embate (em suas mais variadas formas, desde um real duelo como em Os Duelistas até a relação policial e foragidas em Thelma & Louise). O indivíduo entrando num universo aparentemente estranho à ele (um policial americano no Japão, um ferreiro nas cruzadas, um policial suburbano na high society, grupo de elite militar americano na Somália, Colombo na América, uma mulher nos seals). A questão da arquitetura / paisagem sobre o indivíduo (a arena, Mogadishu, o grand canyon, o espaço sideral). O papel da mulher, a figura paternal, e muitos outros temas. E fui vendo isso tudo em Cruzada, me deixando mais fascinado ainda. Fora isso são impressionantes algumas tomadas (como a dos abutres e aves ao redor dos cadáveres ou o olhar de cima da fronteira entre os invasores e os defensores que acaba numa lenta elipse ou os fogos à noite ou o enorme exército muçulmano) deixando clara a formação plástica de Ridley (os seus famosos Ridleygrams são belíssimos, muito melhores que meros storyboards e já dão todo o tom de como as coisas serão filmadas), a encenação clara e precisa do movimento das tropas (muito tempo que não via nesses épicos um claro olhar estratégico e estético ao invés da costumeira bagunça e falta de noção espacial) deflagrando num ótimo duelo de dois oponentes dignos, onde não há lados a se tomar, mas uma admiração mútua entre experts. Até Orlando Bloom se tornou suportável como protagonista e Eva Green num papel até complexo pela falta de tempo para desenvolver sua jornada (sua relação com o irmão, a auto imagem passando pelos adornos na pele até o cabelo cortado, a culpa e o se doar para os feridos, o povo). O elenco de apoio esteve muito bem, em especial o ator que fez Saladin (Alexander Siddig que faz Nasir é velho conhecido de Star Trek - Deep Space Nine). É o primeiro trabalho do roteirista William Monahan que trabalha agora com Martin Scorsese e pode voltar com Ridley em Tripoli.
Algumas fotos do filme podem ser vistas aqui.
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segunda-feira, junho 13, 2005
A Inveja Mata (Envy)
Quem viu o trailer já sabe o que vai ver, mesmo que haja algumas coisas a mais diferentes, uma delas é a amizade realmente forte entre os personagens, algo positivo. Não chega a ser lá muito engraçado, mas também não é sem graça. É cômico ver Rachel Weisz como uma suburbana dona de casa. Jack Black com os exageros dele de sempre, Ben Stiller meio apagado (mas é do personagem) e um Barry Levinson que só no início parecia bem disposto (fazendo um belo paralelo da vida dos dois amigos), depois entra no piloto automático.
Crimes Em Wonderland (Wonderland)
O filme até que ficou acima das minhas expectativas. A narração prende a atenção mostrando vários pontos de vista (principalmente dois) e tanto a cãmera quanto a montagem são criativas, não forçando algo hype ou frenético sem necessidade, mas entrando no clima dos personagens (por isso as cenas truncadas ou algo mais agitado quando o pó é o combustível do momento). Val Kilmer meio que reprisa o seu Jim Morrison, mas achei interessante ele ser em boa parte da história um coadjuvante e um cagão, perdido entre duas forças (o bando e o empresário). É uma parte da história do John Holmes que não conhecia. Talvez fique prejudicado a relação entre ele e a jovem (o foco é o crime cometido), mas acho isso mais um bônus e não a razão de ser do filme. Gostei do Dylan McDermott e até queria que a história girasse em torno dele. No dvd há um longo vídeo real dos policiais entrando na casa ainda com as vítimas no local (um vídeo sinistro e forte para alguns), cenas cortadas, breves entrevistas e a possibilidade de ouvir o diretor comentando o filme (legendado). Em tempos que o filho do Pelé é preso não deixa de despertar atenção esse caso antigo onde um ex-astro pornô também entra nesse mundo ("in the end it's all about the money").
O Processo De Joana D'Arc (Procès De Jeanne D'Arc)
O rigor de Bresson fica bem evidente neste filme, onde temos quase que uma encenação do processo com falas tiradas dos textos originais, atores que não atuam e servem mais como objetos que falam (e por vezes se movem), nenhuma música (a não ser marcações poderosas no início e no final), cenários os mais minimalistas possíveis, curta duração e uma câmera sóbria, quase parada. Não me entusiasmou como o filme de Dreyer (que ainda acho a melhor versão de Joana D'Arc) pois prefiro uma transcendência que encontro em Dreyer e não nos outros (alguns são até acusadores a mostrando como mera louca) mesmo que sua Joana possa até parecer histérica (ou encaro mais como possuída o que vem de acordo com uma pessoa imbuída de uma missão). Mas mesmo apenas como cinema a versão do Dreyer é que me arrebatou. Os títulos já denunciam o enfoque (paixão vs. processo). Essa transcendência que vi em Dreyer encontro mais em Pickpocket do Bresson. Gosto da versão do Preminger também, mesmo que lá se perde o personagem histórico e cria-se uma personagem que cativa em seus diálogos internos. As transcrições do processo são bizarras, as perguntas são tendenciosas, as respostas são vagas e nunca se tenta um real confronto por nenhuma das partes (a acusação não instiga a achar o erro, a defesa dela não retruca incoerências ou apresenta exemplos ou motivos). É um filme de grande importância, só não caiu em minhas graças como esperaria que aconteceria.
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terça-feira, junho 07, 2005
Narradores De Javé
Um bom filme, mesmo que não tenha lá me entusiasmado. As narrativas dentro da narrativa são bem previsíveis com as mais antigas as mais frágeis. Boas performances de todo elenco, principalmente por várias pessoas virem do povo. Há a óbvia idéia de que a narrativa trata também da construção de um imaginário que muito parece o cinema, mesmo assim não acho algo extremamente revelador, é apenas um dado curioso.
Luzes, Câmera, Ação (The Last Shot)
Primeiro filme do roteirista de Prenda-Me Se For Capaz. A história real da operação do FBI em fingir fazer um filme para prender alguns mafiosos dá boas chances de examinar com humor e ironia o mundo do cinema. O filme assume o lado do realizador contratado, um cara que nunca deu certo em Hollywood (como muitos), é bilheteiro do Chinese Theater e vê na chance de ser o diretor do projeto dos seus sonhos a oportunidade de se realizar na vida. E se mostra utópico e generoso, chamando seus amigos hippies para trabalhar no filme. Pode-se dizer que é meio triste sua trajetória, ao contrário do que se poderia esperar de uma produção comercial. Ele meio que assume sua insignificância, tendo um momento especial em sua vida para relembrar (a sessão final do único rolo é tocante). Falta algo ao filme, talvez maior acidez, ou maior humor negro, ritmo, mas o diretor iniciante conseguiu um elenco bem composto.
Latitude Zero
Ótimo filme de Toni Venturi colocando o filme só num local com dois atores, baseado numa peça do Fernando Bonassi e sem transformar isso numa peça filmada. O personagem oculto, o tal coronel, lembra o senador de Bens Confiscados, que nunca aparece mais sempre é presente na narrativa. Engraçado que no dvd há uma longa cena cortada onde o personagem aparece! Ainda bem que o diretor viu que ficaria bem melhor sem a aparição dele. Os dois atores estão excelentes, mas principalmente Debora Duboc tem um desempenho arrebatador, no início grotesco, bestial, se tornando mais suave conforme a maternidade acontece. O uso de locações, do cenário e da fotografia só alimentam o filme, nunca tirando a atenção para si ou sendo mal desenvolvido. E os personagens na sua trajetória são um retrato revelador do país em tudo o que passam, agem e reagem. Bons extras (e uma inesperada Debora dando entrevista e se revelando completamente diferente do seu personagem). Agora há ansiedade para se conhecer o mais novo trabalho de Venturi, Cabra-Cega.
Refém (Hostage)
Um bom filme, cheio de tensão do diretor francês Florent Emilio Siri estreando no cinema americano. O início, bem realizado (como se fossem os créditos de Sin City) assim como toda a narrativa pode vir de sua experiência em direção dos jogos baseados em Tom Clancy (Splinter Cell) que são variações do famoso Counter Strike. A ação inicial segue o padrão de sempre: um trauma no protagonista que vai ser relembrado no decorrer dos acontecimentos futuros (até a legenda de quantos anos depois aparece). Uma coisa que é pouco lembrada é a questão da reza do crimininoso no início e o quanto isso vai se espelhar no final do outro criminoso quando vê a jovem sob um manto e decide se matar para acabar o "mal". Incrível que um simples roubo acabe gerando todo um roteiro (mesmo que precise forçar a barra várias vezes) envolvendo poderosos misteriosos. Todo terço final realmente nos faz ficar amarrados pois não dá exatamente pra saber o que vai acontecer (tudo pode acabar bem ou ser um daqueles filmes niilistas que gostam de quebrar expectativas). O filme se equilibra entre esses dois pontos, apresentando surpresas e indo por caminhos conhecidos. A direção é segura e consegue momentos impressionantes com o fogo e com a animalidade do vilão numa perseguição nos dutos de ar da casa. Os jovens Ben Foster e Jonathan Tucker estão muito bem, ainda mais para quem os conhece das comédias juvenis românticas (Ben já mostrava esse lado sombrio no ótimo Bang Bang Você Morreu). No final só fica a dúvida se o poderoso misterioso vai deixar as coisas assim como estão.
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sábado, junho 04, 2005
Falsária (A Good Woman)
Antes de tudo acho bom falar logo de vez o meu espanto no aspecto físico da Helen Hunt: ela envelheceu, e mal! Como de uma hora pra outra ela passa de adorável Jamie em Mad About You para uma já senhora neste filme. Não creio ser maquiagem (para aparentar mais idade?) ou má maquiagem (Scarlett Johansson está muito bem maquiada em comparação), é idade mesmo. Principalmente na parte ao redor da boca que as mulheres envelhecem mais rapidamente, Helen já tem vincos e uma boca que dá pra prever uma boca de velha, meio caída, murcha e marcada. Sem falar na área ao redor dos olhos, já mais fundo e escuro. Incrível vindo de uma atriz que nem é tão velha assim. Pior que no filme a fotografam para ressaltar essas imperfeições e como o personagem dela tem que passar ser uma sedutora de beleza irresistível fica mais difícil entrar na história. Seria esse o motivo dela não ter tido tantos trabalhos pós Melhor É Impossível? Ou algo pessoal que refletiu na sua aparência? Enfim, a idade é cruel com as atrizes, ainda mais quando se coloca uma jovem atriz ascendente no mesmo filme... Bom, quanto ao filme é uma boa trama de desentendimentos que até faz lembrar as comédias de Shakespeare e não é de se espantar que nos créditos finais ficamos sabendo que é uma adaptação de Oscar Wilde (eu não sabia). Tudo feito com competência, sem grandes momentos artísticos. O início parece até um filme de Woody Allen pelos letreiros e a imagem de NY logo a seguir (além de, coincidência, ter duas atrizes que trabalharam com ele recentemente). Há algumas ótimas tiradas (talvez direto das falas de Wilde) como a da tradicional "ela só está com você pelo dinheiro" tendo como resposta: "e eu pela sua beleza". Bons atores (principalmente os mais velhos) ajudam o filme.
Código 46 (Code 46)
Achei bem interessante essa sci fi do Michael Winterbottom que particularmente alterna filmes que aprecio (Bola Pra Frente) com outros que não me dizem nada (Neste Mundo). Há bastante criatividade em apresentar uma ficção sem sê-la inteiramente, aproveitando muito dos ambientes existentes nos dias de hoje para dar uma idéia de um futuro não muito distante. Não há o cenário pelo cenário (uma falha de muitas ficções e filmes de época), mas sim locais que nos dão a idéia desejada sem tirar o foco principal que é o relacionamento do casal principal. Sabendo depois que a equipe era mínima (16 pessoas ou menos) e a filmagem era no estilo livre e de guerrilha me fez reforçar os sentimentos de semelhança que achei entre esse filme e Lost In Translation e os filmes do Wong Kar Wai (e estes dois já têm ligações fortes). Há uma certa busca sem objetivos claros por partes dos personagens, um contemplar o vazio (em Samantha Morton mais evidente) e um relacionamento impossível. Winterbottom é mais carnal num certo sentido e mesmo assim mais desiludido ao final. A coisa da clonagem é um aspecto nada decorativo que me fez ficar realmente intrigado com o que enfrentaremos futuramente na parte de legislação, da ética e da moral. Reforçaremos mais a ligação dos genes ao fazer com que todos possam por acaso vir de uma mesma origem, um mesmo sangue? A coisa da diversidade pode acabar pelo sub-incesto que será comum em breve? Precisaremos de códigos 46? E no meio disso duas pessoas que se amam e até que ponto isso é válido. Uma curiosidade é ter Mick Jones numa cena de karaokê cantando uma letra que se relaciona com o momento da história. Winterbottom mesmo com as condições que tinha não optou pela câmera rápida na mão que fica acompanhando os personagens, mas sim algo mais fluente, ainda bem. Um recurso usado no filme que não me agradou muito é a mistura de palavras de outras línguas junto ao inglês para mostrar como as coisas se misturam no futuro. Como idéia é boa, mas no filme achei falsa e irritante. Volto a falar da integração das paisagens com a narrativa, que proporciona tomadas muito boas, como a da estrada perto do final (que dará no acidente) por exemplo. Uma outra nota: Morton deve ter utilizado dublê de corpo numa tomada (é o que acho), mas se não usou ela é mais maravilhosa ainda do que eu achava!
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quinta-feira, junho 02, 2005
Potencial
Bizarro ou não sempre achei que o filme Harley Davidson E Marlboro Man tinha um potencial tremendo desde que vi as primeiras fotos do filme. Dois atores "rebeldes", um vestido de piloto de motos moderninho e outro de caubói das antigas, harley davidson, estrada, tiroteios... putz, que filmão eu imaginava. Na verdade o filme é uma grande decepção, mas até hoje ficou na mente o que seria esse filme pelo que imaginei ao ver algumas das primeiras cenas (nem trailer era). Mesmo que fosse o maior filme comercial de todos os tempos (até no título), mas que fosse muito bem feito, só que nem isso aconteceu. De consolação no começo toca Wanted Dead Or Alive. Ao menos isso!
Alguém podia refilmar isso!
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Dica
Só pra indicar o ótimo blog WomenFolk que já visito há tempos, mas só agora estou recomendando porque aproveito para indicar a canção I Need Love que a extinta Sixpence None The Richer regravou. A bela voz de Leigh Nash realçou a canção que já era muito boa. Peguem aqui
Leigh Nash
O blog dá uma boa intro na carreira das mais diversas cantoras (novas e antigas) e sempre disponibiza algumas canções para serem baixadas.
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